domingo, 1 de maio de 2011

Sobre a tomada de posição da CGTP contra direitos sociais para quem presta serviços sexuais

A prostituição é um trabalho porque dá trabalho e dá dinheiro, facto. Reconhecê-lo é apenas bom senso. Reconhecer igualmente que a indústria do sexo - da qual a prostituição, maioritariamente exercida por mulheres, é apenas parte - emprega milhares de pessoas nas mais variadas actividades profissionais, que trabalham tantas vezes sem enquadramento profissional e sem direitos, é... lógica sindical. No entanto, reconhecer que a prostituição é um trabalho (profissão é ainda outro conceito, que importa distinguir) e que lhe devem estar associados direitos sociais - assim como hoje lhe está associado um estigma moral - é também bom senso. Achar que toda a prostituição é exploração sexual é redutor e uma confusão que favorece a impunidade do tráfico de pessoas e da exploração sexual, bem como a perseguição e precarização das pessoas que vendem - não o corpo ou a sua pessoa mas sim - serviços sexuais. 40% dos homens portugueses (heterossexuais) procuram esses serviços (estudos). Sobre os homens que procuram os serviços sexuais de outros homens há menos estudo. Depreender daí que pelo menos igual percentagem de associados da CGTP os utiliza, é senso comum. Perante uma campanha não moralista - a primeira sobre este tema num país em que basta ler a taxa de infecção pelo HIV entre trabalhadores/as sexuais e cruzá-la com os dados conhecidos sobre a quantidade de clientes que propõem pagar mais por sexo sem preservativo para entender da sua urgência -, eis o moralismo de um feminismo anti-sexo que ao negar a existência de serviços sexuais - prostituição incluída - VOLUNTÁRIOS, menoriza as pessoas que os prestam a ponto de lhes negar exactamente a dignidade da pessoa humana que diz querer defender naquilo que lhe é mais estrutural: o direito a escolher, e o direito a escolher sobre o próprio corpo (onde é que já ouvi isto?). Há 4 anos um grupo de trabalhadoras do sexo do Intendente decidiu por iniciativa própria que tinha o direito de ir ao 1º de Maio. E voltará a exercê-lo de pleno direito amanhã. Terei o maior gosto de conversar pessoalmente com o/a sindicalista que lhes vá dizer que não ali não pertencem. Ou com o/a camarada do PCP (ou qualquer outra força da esquerda) que venha propor, como recentemente, a proibição dos anúncios de serviços sexuais. Camaradas, para tamanha hipocrisia sexual e social já basta a direita.

publicado em simultâneo em www.5dias.net

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