quinta-feira, 31 de março de 2011

Ciclo de Cinema Porno Feminista




E não é que umas mentes obscenas decidiram fazer um ciclo de cinema porno feminista... onde é que já se viu tamanha pouca vergonha!?
Ainda por cima num blog com etiqueta veemente apoiada pela nossa querida Paula Bobone. O que vale é que o cartaz é cor de rosa.

Ora espreitem lá... (não se preocupem que não dizemos a ninguém)... http://www.facebook.com/?ref=home#!/event.php?eid=176932062353975

terça-feira, 29 de março de 2011

O Regresso da Contestação na Rua e na Música

Não é a estreia mais palavrosa, mas junto o meu aos restantes sapatos aqui arremessados com um anúncio:

O REGRESSO DA CONTESTAÇÃO NA RUA E NA MÚSICA

4ª feira, 30 de março, às 22 horas, no Chapitô, em parceria com o blog 5 dias (no qual também participo), Debate sobre a ascensão das gerações à rasca nas ruas e o reaparecimento da música de intervenção.

Oradores:

Helena Matos – (Blasfémias)

João San Payo – Músico dos Peste & Sida

Miguel Morgado – Cachimbo de Magritte

Tiago Mota Saraiva – 5 dias

António Tomás – Jornalista, antropólogo e colunista no Novo Jornal (publicação angolana)

Sérgio Vitorino – 5 dias/ Também Jogamos Sapato/ Panteras Rosa

Moderador:

Vítor Belanciano – Crítico cultural e jornalista

30 de março, às 22 horas, no Chapitô

segunda-feira, 28 de março de 2011

O BPN custou-nos mais de 13 milhões de salários mínimos. E o povo, pá?



"Não importa quem somos, mas aquilo que nos junta. Somos gente farta da falta de oportunidades e cansada do discurso mentiroso que afirma «não há outro caminho». Somos gente cujo investimento e sacrifícios dos pais na nossa educação resultou em desemprego e precariedade e ofende-nos ouvir dizer que a culpa da nossa precariedade é dos direitos que a geração deles conquistou. Somos gente que defende o trabalho digno e com direitos, independemente da idade e habilitações literárias. Somos gente que está farta de ter a vida congelada e o futuro, nosso e dos nossos filhos, adiado. Porque não nos resignamos, protestamos. Exigimos respeito e reclamamos o direito à dignidade e ao futuro."

feios, porcos e maus



Para quem lá está em cima... Cego, Surdo e Mudo.

Está na hora de mostrar o sapato!



Os Homens da Luta também querem atirar sapatos!

domingo, 27 de março de 2011

Manual bobone para a luta [em construção]

"A etiqueta contribui para estabelecer a ordem social. É o conjunto de regras que proporcionam a harmonia social no espaço e no tempo. A palavra etiqueta vem do francês etiquette que por sua vez deriva do holandês stikken que significa pregar e corresponde às indicações escritas que se colocavam nos objectos. No século xvii, nas cerimónias da corte, quando o termo foi amplamente utilizado, a etiqueta era regida por ordens escritas, reguladoras do comportamento perfeito. (...) A etiqueta dos grandes acontecimentos da vida, tem um papel de legitimação simbólica, sem arbitrariedades. Ela assegura a hierarquia, respeita as classes, os títulos e o aparato. Ela é a própria lógica do prestígio e da racionalidade social. " (Paula Bobone, in Socialmente correcto)

Esta primeira proposta para o manual inclui apenas as rubricas "Indumentária" e "Postura, elegância e savoir faire". As restantes rubricas seguirão em breve.

Agradece-se a Bobone, Stilwell, V. J. Silva e outros a amável inspiração
 
Indumentária
  • Se é mulher: Use maquilhagem leve, resistente ao calor. Leve sempre um chapéuzito adequado. Aconselha-se tailleur sóbrio e fresco. Não caia na tentação de usar calçado de salto raso. A elegância deve estar presente em qualquer ocasião, especialmente em situações de intensa visibilidade pública. Uma senhora tem de estar sempre preparada.
  • Se é homem: Barbeie-se cuidadosamente, por favor. Vista casual, mas elegante.
Nota: Se não é nenhuma destas coisas, des-exista por favor, ou controle-se. (O que é que lhe passou pela cabeça, aliás?)

Postura, elegância e savoir faire
  1. Não grite (cruz credo!). Não vale a pena e nunca fica bem. Fale baixinho, devagar, use moderação e coloque toda a sua boa educação no linguajar.
  2. Guarde as suas opiniões para si, especialmente se é mulher. Não queremos loucuras, pois não?
  3. Se pretende criticar alguém, faça antes uma pequena revisão mental: É alguém de status social mais elevado? De uma família de uma linhagem mais antiga ou mais pura que a sua? Com mais idade? Se for o caso, não critique. Se tiver mesmo de ser, não se esqueça de referir previamente que lamenta ter tomado a liberdade.
  4. A propriedade privada é sagrada. Nunca a ocupe ou sequer pense se aproximar dela sem a benção dos seus proprietários, mesmo que esses sejam um qualquer endereço com sede em paraíso fiscal ou estejam abandonados há tempos sem fim.
  5. Nunca atire sapatos, chinelos, etc. Se tiver mesmo de o fazer, use apenas os de marca italiana.
  6. Se levantar a mão, faça-o com delicadeza. De preferência, use apenas um dedo, como aprendeu - e bem - na escola. (Cuidado, não se engane no dedo!!)
  7. Procure andar alinhado, a um ritmo adequado, sem levantar as pernas ou os braços em demasia. Há vários vídeos da Moda Lisboa onde se pode inspirar.
  8. Se é desempregado, “quinhentoseurista” ou outro mal remunerado, escravo disfarçado, subcontratado, contratado a prazo, falso trabalhador independente, trabalhador intermitente, estagiário, bolseiro, trabalhador-estudante, estudante, mãe, pai ou filho de Portugal, não seja parvo, não vá. Onde é que tal já se viu, francamente? Pense no que poderiam dizer de si, ou em como é que isso ficaria no seu currículo. Para quê complicar mais as coisas, não é?
Se depois de tudo isto se sentir preparado para a luta, força aí, a luta é alegria! (diz-se que é uma expressão em voga e por isso fica bem, mas controle-se na sua utilização) 

sábado, 26 de março de 2011

Grandma in the new london calling

não é boa ideia andar a chatear a avozinha!
[n se vê bem, mas o cartaz diz: "now you've pissed off grandma"]

Uncut: o movimento pela alternativa à austeridade



Hoje é dia de ocupar as ruas de londres contra os cortes austeritários. Uma manifestação que se espera histórica, mais uma ancora num movimento com base local que se tem espalhado por todo o país, e para vários países. As possibilidades de acompanhar on line a marcha pela alternativa são imensas. A não perder.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Juntas demos mais um nó na rede


Era sexta-feira, dia seguinte ao dia das amigas. Como éramos apenas mulheres, estavamos quase todas com a memória fresca do dia anterior. Este convívio era também para isso, festejar os nós que este projecto tem vindo a desenvolver entre todas.

Mas começamos por falar de uma questão pouco estranha nas nossas vidas ou nas das/os outras/os que nos envolvem, a violência doméstica. Slide a slide, expôs-se a sequência das histórias de violência, dos comportamentos, das relações e dos resultados. E nos olhos e nos comentários espelhava-se identificação de quem ouviu, viu ou sentiu esta realidade na sua casa, na casa da vizinha ou na casa da tia. Como se de uma novidade antiga se tratasse. E foi importante por isso mesmo, porque permitiu descobrir véus, desconstruir mitos e, quem sabe, denunciar no futuro um caso que se conhece. Porque é crime, crime público.

O resto foi convívio. Foi comer coisas boas, doces e salgadas, que cada uma fez com as suas próprias mãos. Foi conversar as coisas da vida, das nossas vidas, iguais e diferentes a tantas outras. Foi observar a gargalhada de uma ou a seriedade da outra. Foi contar as peripécias quase “picantes” de viver um raro, mas inocente, dia de amigas. Foi dar mais um ponto na rede do Projecto com as Mulheres da pesca.

(Este foi um artigo escrito por mim, que saiu no Açoreano Oriental do dia 27 de Fevereiro. É sobre um encontro da Rede de Mulheres na Pesca, resultado de um longo percurso de "empowerment" com mulheres deste sector económico tão importante, mas tão invisível, nas ilhas dos Açores. Quem as viu e quem as vê fica de queixo caído com a o seu à vontade em público, com o seu discurso, a sua auto-estima ou a sua vontade de saber mais sobre o mundo. E eu por cá vou aprendendo muito.)

Foto de: Laurinda Sousa

Porque o nosso futuro seria outro...



Eu sonho com um país que se revolte contra os bancos.
A Islândia passou do sonho à realidade.
Chegaremos nós a esse dia?

Os snobs, por Paula Bobone

"Existe uma tendência para confundir boas maneiras com snobismo. O conceito de snobismo, de facto em grande parte coincidente com sociabilidade, caracteriza-se pela adopção de comportamentos sociais por toda a sua exterioridade. Os frequentadores da vida de sociedade concordam em admitir a existência de snobes. Eles existem em todos os países. São simultaneamente um meio de defesa e um factor de coesão das classes dominantes. O termo snobe tem uma história recente e o seu significado mais aceite, se bem que não garantido, é um acrónimo da expressão latina sine nobilitate(sem nobreza). Segundo se diz, era esta a designacão escrita nas pautas das escolas da nobreza inglesa, à frente dos nomes dos alunos que as começaram a frequentar no século passado, na sequência das evoluções sociais marcantes de uma época em que se registou a ascensão da burguesia. Esses foram os primeiros a ser chamados snobe. O termo snobe foi introduzido na linguagem corrente pelo escritor inglês William Thackeray, autor de The book of Snobs.

Os snobes são apresentados como uma classe de gente afectada que investe na imitação das classes altas, como forma de ascensão social. Aproximam-se das pessoas que consideram modelos sociais e tentam reproduzir a sua estética. Os snobes imitam a vida. Os snobes têm o desejo de "ser". São bons entendedores da lógica do prestígio social e formam uma elite artificial com um complexo de superioridade activo. Eles aspiram, suspiram, são verdadeiros trepadores em luta por uma posição mundana. Para eles, o struggle for life transforma-se no struggle for high life. Esta expressão inglesa define bem o tipo de vida agradável das pessoas da moda. Como disse Claudel, "o snobe é um mundano em potência".

A sua carreira é de frivolidade e desprezo pelos valores morais dos outros. Dá muita atenção à classe social e não gosta das classes inferiores. O snobe gosta de ser tratado de maneira diferente, com distinção. Eles aspiram à mudança de classe. É de referir a frase-. "O snobismo é a única confissão que promete o Paraíso na Terra". Os snobes são portanto admitidos no paraíso terrestre e na sociedadedos contos de fadas. Há que admitir também a existência dos snobes frustrados, dos anti-snobes e dos snobes intelectuais. O snobismo anti-snobe é pior que o snobismo propriamente dito. Os snobes têm boa aceitação mundana mas são simultaneamente criticados por serem afectados e preciosos nas formas da estética em detrimento dos conteúdos da moral.

(...)

Os snobes são sementeiras onde germinam variedades de sementes. Orgulham-se de saber muito de certos assuntos: genealogias, memorialismo aristocrático, nomes de pessoas, desempenham o chamado name dropping, estão ligados ao bom gosto, às antiguidades, às modas, desportos de elite, usam expressões inglesas que misturam com francês, banem o calão das classes trabalhadoras etc... Os homens são membros de clubes como o Jockey, Turf ou o Tauromáquico, as mulheres frequentam os cabeleireiros de luxo e dedicam-se a mediáticos eventos de caridade. Pretendem-se frequentadoras hábeis e esforçadas de ambientes sociais mais ilustres e reservados.

Adoptam os sinais exteriores e tiques da burguesia de dinheiro ou da nobreza histórica.

Cultivam uma linguagem própria com respeito servil pelos tabus linguísticos das classes altas.

Podem ser importantes líderes de opinião.

Podemos assim concluir que existem pessoas de qualidade e pessoas que as imitam."

Paula Bobone, em Socialmente Correcto

Alerta! Alerta!





CONTRA O DOMÍNIO DAS GRANDES POTÊNCIAS
FORA O IMPERIALISMO INTERNACIONAL
QUE TEM NAS MÃOS METADE DE PORTUGAL
ABAIXO O IMPERIALISMO!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Debatendo sobre a Líbia

Em conversa com o post anterior da Andrea

Querida Andrea, gostava de partilhar contigo também o que penso sobre isto (e obrigada por nos convocares a reflectir sobre este tema....)

1. As guerras são temas dificílimos. Não só pela sua complexidade como também porque nos colocam  perante o fio ténue que separa a vida da morte. Por mais verdade de la palice que isto pareça, acho que nunca é demais referi-lo. Não acho que existam guerras boas.
2. Temos uma cultura de guerra muito mais impregnada do que uma cultura de paz. Quando a paz existe é tomada como um dado adquirido e não se investe nela. Já a guerra, além de ser assumida como "natural", "inevitável" é constantemente construída como cultura, desde os media ao cinema ou até aos brinquedos para crianças. Por isso também, nos faltam soluções de paz ou ideias alternativas de construção de paz em situações complexas.
3. Com a ida ao Congo vi-me perante uma grande dificuldade em manter a clareza da minha posição relativamente à desmilitarização. Porque me apercebi, no concreto, da dificuldade que é dizer, por exemplo, àquelas mulheres que vivem continuamente sob a ameaça da violação, de perda das suas vidas e das pessoas que lhe são próximas, da destruição do seu país, que apoiarem o reforço do seu exército - corrupto, ele próprio violador, patriarcal, etc - era uma ridicularia. Porque senti que dizê-lo sem ter propostas específicas para elas se defenderem de outra forma, era uma barbaridade de quem não sabia o que era essa ameaça. E, de facto, apesar de algumas propostas de redes de defesa popular que existiam dos colectivos de mulheres de lá, não haviam soluções, nem imediatas nem a médio prazo. As únicas propostas construtivas que me pareceram evidentes eram o reforço daqueles colectivos, dos seus processos de organização, a visibilidade internacional das suas realidades e formas de luta (além do desmascarar das óbvias razões de interesse económico internacionais que mantinham aceso o conflito), bem como a continuidade do debate feminista internacional com participação de colectivos de mulheres a viver em zonas de conflito para construir propostas concretas, mesmo que essas propostas só com o tempo possam ir dando frutos.
4. Incomoda-me muito, neste caso, a rapidez com que a ONU (ONU? Países com veto? NATO? Os eternos interesses da indústria bélica?) prepararam e começaram a executar uma intervenção armada. Como se estivessem já à espera de uma maneira de conseguir entrar e controlar a zona, tão com cheiro de liberdade nos últimos tempos. Para além de não ver se, de facto, isso poderá terminar com a realidade de violência que a Líbia está a viver e com o poder do Kadhafi, ou se irá, bem pelo contrário, iniciar mais um longo processo de conflito continuado. Sempre me pareceu que bombas para ajudar a paz é um paradoxo demagógico desde há muito usado por países interessados em fazer a guerra por desejos de poder ou de dinheiro.
5. Posto isto, que fazer com a bola que fica presa na garganta ao ver o Khadafi a dizimar o povo da Líbia? Não sei. E é terrível essa impotência, claro. Apoiar de todas as formas que nos forem possíveis a capacidade do povo líbio manter a revolta, reforçar a sua luta, talvez seja por aí. Continuar a insistir na paz, a aprender a fazê-la. Até um dia a história começar a ser o contrário da que temos vivido.

Militarização pela democracia?

Mal se começou a falar de protestos na Líbia, eu meti a cabeça na areia. A revolução egípcia, apesar das dificuldades e do futuro incerto, tinha-me dado alento quanto às possibilidades da Humanidade. Mas um líder sociopata, uma forma de organização bem próxima à fantochada política, a manutenção do poder à conta do privilégio e da repressão de liberdades civis... era grande o risco daquilo tender a descambar num banho de sangue, numa guerra civil. Compreendo por isso o nojo sentido pela Andrea. Evitei-o, evitando actualizar-me sobre a evolução dos acontecimentos na Líbia. Não só procurando não me informar (!), mas também evitando tomar posição sobre o que se passava.

Quando ouvi falar em intervenção de forças internacionais percebi que não dava para manter muito mais tempo a cabeça na areia. A verdade é que não acredito que a escalada da violência, que uma escalada militar vá resolver o quer que seja. Sou incrédula quanto às intenções de atender às reivindicações da oposição, especialmente quando os interesses geopolíticos das grandes potencias na região são imensos. Por outro lado, uma escalada militar em nada reforça os movimentos pela democracia que se têm espalhado um pouco por todo o mundo árabe: afinal, “os povos do Norte de África, e do Médio Oriente estão à procura de menos, não mais militarização dos seus países”.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Deixa-te de políticas...

Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho,
porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta
e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus
com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?

José Mário Branco, em FMI

Kadhafi e a guerra

Não estou contente, como ninguém poderia estar ao ver uma guerra começar. Mas não posso deixar de achar necessária a intervenção de forças militares internacionais na Líbia, contra Kadhafi. O meu pai comentou “é a primeira vez que vejo uma pessoa de esquerda entusiasmada pelos EUA bombardearem um país” e eu deitei-lhe a língua de fora. A verdade é que eu não podia mais com o nojo que a situação da Líbia me estava a causar. Havia várias semanas que o avanço das tropas de Maummar Kadhafi parecia imparável, na direcção de Bengazi. Depois das revoluções tunisina e egípcia, a primavera árabe parecia perto do fim. E eu sentia-me triste, porque apesar da distância estas revoluções são um pouco nossas, da geração que não viveu o Maio de 68 nem o 25 de Abril, mas que tinha agora a hipótese de ver acontecer algo tão belo como o nascer de novas liberdades em países de ditaduras decanas. Agora, a intervenção das Nações Unidas. Imperialismo? Não compreendo como podem comparar com a invasão do Iraque quando os próprios opositores de Kadhafi (ciatdos pela Al Jazeera e pelo Guardian) ficaram tão contentes com a “no fly zone” e os bombardeamentos que obrigaram o ditador a respeitá-la. (“Ahmad Shabani, a spokesman for the Libyan opposition's national council, told Al Jazeera the opposition was heartened by the move. "We are very happy about that, hopefully it's not late... and hopefully it makes a difference," he said”, no sábado) Eu também espero que faça a diferença. Porque Muammar Kadhafi não ia respeitar o cessar-fogo, não estava a respeitá-lo. E se não acredito em bombas pela paz, também não acredito em mártires pela liberdade ou seja por que causa fôr.

terça-feira, 22 de março de 2011

A sede é de loucos

Ouço o silêncio da calma deste quarto.
Penetra-me com inquietude.

Não, não pode ser.

As palavras que a revista emana assustam-me.
Estou aterrada.
O mundo não colide com este quarto.

Quero sentir na pele dos meus olhos o sangue dos olhos dos outros.

O sangue dos olhos dos outros é negro. É da cor do sangue que a terra teima em jorrar.

Oh Terra!
Acaba com esta merda pá!
Que estes corpos que por ti vagueiam têm sede do teu sangue.

Uma sede de loucos.

A sede é de loucos.

E os loucos andam lá em cima.
Os loucos bebem whisky.
Os loucos abrem as pernas delas.
Mas não se esquecem do teu sangue negro.

A louca agora sou eu.
Estou num quarto.
O silêncio entra por um qualquer buraco da porta e eu só ouço nele o grito do sangue dos olhos dos outros.

Tenho medo.

(Um poema que fiz há quase dois anos.
Hoje parece que o mesmo som me entra pela janela,
mas aliado ao medo vem a força)

E o Yemen, como vai?

Após a morte de 52 manifestantes, vários militares uniram-se aos manifestantes. Vários membros do Governo demitiram-se. Reportagem actualizada aqui: Periodismo Humano

A ler.... "Resolução da ONU autoriza líbios a matarem líbios (e EUA/NATO a matarem os que sobrarem)"

http://mariafro.com.br/wordpress/?p=24187

quinta-feira, 17 de março de 2011

o que deixou sábado para nós

As expectativas de novas manifestações aumentam depois do último grande protesto, no sábado dia 12 de Março, da "Geração à Rasca", ter levado 300 mil pessoas a sair à rua, por todo o país. E porque podemos considerar que o protesto de sábado é o início de uma luta que queremos travar contra um governo que nos asfixia (porque se a luta não era contra o governo, em Lisboa e noutras cidades portuguesas, cartazes e faixas demonstraram o contrário), têm sido marcados, em vários pontos do país, encontros "à rasca", com o grande objectivo de criar um movimento a nível nacional, mais politizado e mais forte, que dê continuidade à luta: nas ruas.
Na terça-feira passada, em Coimbra, mais de 100 pessoas reuniram-se para a realização de um plenário, divulgado, também, para além da distribuição de "flyers" nas ruas da cidade, com a ajuda de alguns meios de comunicação regionais e do "facebook". Porque esta luta não é apenas de uma geração, este plenário juntou estudantes do ensino superior e do ensino secundário, trabalhadores e desempregados, de todas as idades. Este foi um espaço privilegiado para que todas/os as/os presentes pudessem partilhar a sua opinião em relação ao protesto de sábado passado, a forma como acham que a mobilização e a luta devem ser feitas a partir de agora e as suas próprias reivindicações, já que um dos principais objectivos deste movimento que surge em Coimbra, assim como noutras cidades, é a realização de um caderno de reivindicações, que vão ao encontro das dificuldades com que nos debatemos no nosso dia-a-dia, e soluções para as mesmas.
Neste plenário discutiu-se também o possível e necessário apelo - a movimentos à rasca de outras cidades - para que haja encontros, distritais e/ou nacionais, por todo país, para pensar novos dias de sair à rua e lutar.
Todos os plenários que se realizem, sendo que o próximo já está marcado para terça-feira - dia 22 de Março - se farão acompanhar por uma acta, onde se salvaguardará tudo o que é proposto por quem nos mesmos participar, que se tornará pública e, assim, usada como um instrumento de consciencialização dos problemas que nos atormentam.
Para que sejamos cada vez mais a lutar por melhores condições de vida no nosso país, deixo aqui um apelo à mobilização!


Dia 19, boas razões para sair à rua








Depois do mar de gente do passado sábado, no dia 19 há manif. Contra a precariedade e o desemprego, con
tra as desigualdades sociais, pela mudança de políticas. Basta de vira o disco e toca o mesmo. Boas razões para voltar à rua.

Haja paciência para o Bloco de Esquerda-Açores...


Ontem li esta pérola do Bloco de Esquerda Açores...

Tentando esquecer o ridículo de um comunicado que reage a um boato (e assim o transforma num facto, olha a idiotia), salienta-se esta frase, que parece retirada duma crónica da Stillwell ou da Filomena Mónica: "O Bloco de Esquerda/Açores repudia o boicote levado a cabo por um grupo de manifestantes ao programa Atlântida, da RTP/Açores, que estava a decorrer no Centro Comercial Solmar. Esta não é a postura nem a forma de agir do Bloco de Esquerda/Açores, que lamenta o boato lançado a este respeito." Em que é que o BE-Açores não se revê afinal? Num protesto pacífico? Em formas de resistência criativas? O que é que repudia? Um grupo de manifestantes a tentar entrar num centro comercial? Ou a preocupação é a RTP-Açores e a interrupção (que terá sido de uns minutos) de um programa em directo? Perdão?????
De seguida, este texto entra no seu quê de chibaria ao identificar (ou tentar fazê-lo) pessoas que estavam presentes neste protesto: "pessoas que foram aderentes do Bloco de Esquerda/Açores, mas que deixaram de o ser, há vários anos " (a eventual dificuldade em identificar, neste caso, poderia dever-se ao facto de no Bloco de Esquerda Açores não faltarem ex-aderentes...). O acto de bufo, seja como for, ficou feito.

E já agora bora repor os factos - mesmo porque as lideranças do BE-Açores nem sequer estavam lá neste momento, como se depreende pelo esclarecimento - falam portanto do que não viram nem sabem. Quando estávamos à frente do Palácio do Governo, alguém se lembra que está a decorrer no CC Solmar um programa da RTP-Açores e propõe irmos para lá. Quem organizara a manifestação decidiu - uma vez que estava fora do que tinham previsto enquanto percurso da manifestação - acabar a manifestação por ali. Conclusão: a forma como o protesto continuou foi sob a responsabilidade individual de quem lá estava (como sempre é, afinal de contas). Lá continuou pela avenida, mais de metade das pessoas que estavam na manifestação, a cantar e a gritar "o povo unido jamais será vencido".Chegou ao Solmar onde já estava um grupo de polícias a barrar as entradas principais. Por ali ficamos, entre cantos, cartazes e gritos de protesto. Entre o vai não vai e o entra não entra, em grupo ou a sós, as pessoas vão entrando pelas lojas e pelas portas, uma após a outra. Lá dentro, aquela mise en scéne de directo televisivo, agora com as nossas vozes pelo meio. Uns minutos ficamos lá dentro, sempre no mesmo tom, de palavras de ordem e cantiga. A polícia foi retirando @s protestantes. As pessoas saíram. Estava lindo o fim de tarde, por isso lá ficamos, na conversa, a tocar, a dançar ou a comer um gelado pelo pôr-do-sol adentro. Como podem ver, mais pacífico não há. A não ser que o Bloco de Esquerda Açores repudie a liberdade de expressão...

(e prontos, depois disto tenho de acabar em breve o meu próximo post :"Reinventem-se os partidos políticos. Afinal fazem parte do problema ou vão ser parte da solução?")

Muda também o profundo



"Muda o superficial
Muda também o profundo
Muda o modo de pensar
Muda tudo neste mundo

...

Mas não muda meu amor
Por mais longe que eu me encontre
Nem a recordação nem a dor
De meu povo e de minha gente

O que mudou ontem
Terá que mudar amanhã
Assim como eu mudo
Nesta terra tão longinqua

Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda
Muda tudo muda"

segunda-feira, 14 de março de 2011

Manifestação Geração à Rasca (Fotografia)


Lisboa, 12 de Março de 2011

Dia de mudar de rumo? De ir ao encontro da mudança?




























Olha como lhes fica bem...



Não resisti em apropriar-me desta apanhada no oblogouavida. É que desde o Sr. Presidente Cavaco ao Ex-Primeiro Ministro Santana, passando pelo líder da JSD, esta súbita proletarização do PSD não deixa de ser um fenómeno espantoso!

domingo, 13 de março de 2011

A Primavera chegou...


Ontem, 12 de Março, 1 mês e meio depois dos Deolinda terem lançado o grito de uma geração inteira, as ruas encheram para mostrar que há verdades que vêm por bem.
Emocionaram-se, dedicaram-nos a música e fizeram levantar o público presente num concerto na Galiza.
E a Primavera chegou...

sábado, 12 de março de 2011

Nos Açores, manifestações na Horta, Angra e Ponta Delgada

Estava bonita a festa pá. Aqui em Ponta Delgada à frente do Palácio do Governo. parte d@s manifestantes pararam depois um directo da RTP-Açores gritando "Basta! O povo unido jamais será vencido"

(fotos de Laura Roque)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Tudo o que quer saber sobre as manifestações de 12 de março e não tem vergonha de perguntar

[por aventar]

1. A manifestação é pela demissão de toda a classe política?

Não. Existe um manifesto, onde em parte alguma se fala de tal coisa. Leia-o.

2. Mas então quantas manifestações estão convocadas?

Várias, nas principais cidades portuguesas e mesmo junto a algumas das nossas embaixadas. Houve uma confusão com o grupo “1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política”, o qual já emitiu um comunicado, esclarecendo não estar “de forma alguma ligado à organização do protesto “geração à rasca. Enquanto movimento livre e espontâneo de cidadãos, este grupo desde a 1ª hora se solidarizou com o protesto, divulgando e incentivando os seus membros participarem da manifestação do dia 12 de Março”

3. E o mail que por aí circula com uma série de reivindicações?

Circula por iniciativa de quem o escreveu. Não foi subscrito pelos organizadores das manifestações.

4. Os partidos políticos foram convidados e vão participar?

Os promotores dirigiram uma Carta aberta a todos os Cidadãos, Associações, Movimentos Cívicos, Partidos, Organizações Não-Governamentais, Sindicatos, Grupos Artísticos, Recreativos e outras Colectividades, e irá quem quiser participar. No meio da confusão gerada, era o mínimo que poderiam fazer até para se demarcarem da ligação com a tal demissão de toda a classe política.

5. É verdade que a extrema-direita está envolvida na manifestação?

No facebook aparecerem convocatórias para várias manifestações, e concentrações, algumas claramente conotadas com a extrema-direita. Têm um apoio irrelevante.

6. A manifestação é para que idades?

Dos 7 ao 77, digo eu. Embora convocada por jovens, o apelo à participação abarca todos, os que de uma forma apartidária, laica e pacífica se queiram manifestar.

Digo eu, que sou doutra geração e vou, acrescentando que ando nisto há muito tempo e sei que a minha geração nunca seria capaz de organizar um protesto desta envergadura, e desta forma autónoma e independente. A minha geração era capaz de fazer 427 reuniões e discutir o 25 de Abril, o 25 de Novembro, o sexo dos anjos, e mais umas tolices. Ainda lá estávamos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

a bipolaridade de uma vida insegura

Hoje fiquei assim com o coração na boca... esta coisa de a vida não ir nada fácil, transforma-nos em seres quase bipolares, sem diagnóstico identificado. É como se subíssemos e descêssemos montanhas, dia-após-dia.
A insegurança da minha/nossa vida actual tenta derrubar-me as forças, mas eu não deixo, porque junt@s somos mais fortes. Nós as pessoas que estão com uma corda ao pescoço, amarrada pelos bancos e por isto e por aquilo.
Falo em bancos porque são eles os grandes oportunistas desta minha história.
Entrei para a Universidade com 18 anos e ao fim de uns meses, apercebemo-nos (eu e os meus pais), que não conseguíamos suportar os gastos que estava a ter, entre livros, casa, propinas e alimentação. Das duas uma, ou trabalhava e ficava sem tempo, ou pediamos um empréstimo. Pedimos um empréstimo com a ilusão de que na hora de o pagar o faríamos entre tod@s.
A vida ficou apertada e conclusão: tenho 22 anos e vou ter de pagá-lo sozinha. (Se tivéssemos uma bola de cristal tínhamos previsto que as coisas iam ficar mal para tod@s)
O curso está feito desde setembro, numa área que me apaixona, a Animação Socioeducativa. Mas estamos em Março, e as paixões não curam o facto de em Maio ele começar a cair em jorro da minha conta. 342 euros por mês (consoante os humores da taxa euribor), durante 9 anos. Volto a repetir, 324 euros por mês, durante 9 anos.
Salário mínimo? Caga nisso, não podes porque senão ficas sem comer. Contrato precário? Epáh, poderes até podes, mas quando acabares corre, corre, corre para o próximo. Emigrar? Mas eu até gosto do meu país...
Resumindo e concluindo, resta-me apenas lutar colectivamente pela transformação deste nosso mundo. E a transformação, essa, é demorada, é complexa, é extenuante, é frente e trás, é de persistência, é de criatividade, é de música e é de teatro e é de tantas coisas. Mas o contrário é ir ao fundo, e isso é muito pior.
Como disse o Zé Mário
"Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda."

Confesso madrugadas de esperança

Dia doze, dia doce.
On revolution till it happens. On lovelution always.  

Querido país:

Há algum tempo cansada - por vezes extenuada - dos soldados da bolsa, do FMI, do Sócrates, dos abusos de poder, da nova religião totalitária da economia, dos exércitos dos bancos todos os meses a metralhar a minha conta, do salário que não se reinventa, não estica (ou, em resumo, simplesmente não dá), da dor de cabeça dos governos e das oposições naquela relação de arena na Assembleia, do Cavaquistismo, do regime da comentação televidiota, da estupidez estúpida dos mercados  e doutros bláblás e coisa e tal, confesso, de há uns meses para cá, andar a viver madrugadas de esperança.

Quero, confesso, viver bem - imagina lá tamanha desfaçatez – e daqui, deste corpo pequeno, parada no meio do mundo, confesso também sempre ter achado que és mais nosso do que teu, país. Que quem te faz não são as tuas fronteiras, somos nós. Portanto serás, quod erat demonstratum, aquilo que nós quisermos, não? Some-se a isso dizer-se que dos sonhos não se morre, o que parece altamente vantajoso para a actividade de sonhar livremente, e voilá. Nem é preciso se preocupar com excessos, pois sonho não é gordura.
Parece-me então que por isso, dia após dia, de há uns meses para cá como te dizia, vou acordando com a utopia ao lado. Gradualmente, ela vai parecendo cada vez mais real e há dias que até me dá abraços e beijinhos entre os lençóis, imagina. 

Talvez, então, quem sabe, portanto, amanheças assim também, país. Como eu, lado a lado com a utopia. Digo-te mais: Ouve-se o mar atrás das janelas. Acho que vai entrar.

Até lá, beijos, pois claro.

(pintura de Luís Roque)

O poder da agenda da geração à rasca

Poder refere-se à capacidade de produzir ou contribuir para resultados, fazer com que qualquer coisa ocorra através de relações sociais, afectando significativamente um/a outro/a ou outros/as. O poder pode ser visto como algo impessoal - associado a um mecanismo, um sistema ou uma estrutura -, ou como propriedade de alguém, individual ou colectivo. Retomando uma citação de um post anterior [o indivíduo separado, livre, igual é uma ficção eficaz: está na base da legitimidade das nossas sociedades], o mais interessante na recente onda de agitação social que anda por aí e finalmente parece ter chegado a Portugal, parece ser a exposição da ficção do individualismo e o reconhecimento das potencialidades do poder colectivo. O problema é que se a impessoalização do poder torna-o algo alheio à pessoas, e a sua individualização abre espaço ao abuso de poder, a verdade é que a sua forma colectiva complexifica a clarificação de objectivos e o controlo sobre os seus resultados.

Quando a gente egípcia tomou como sua a Praça da Tahrir exigindo a demissão do presidente Mubarak ouviu-se, um pouco por todo lado, o temor: se o presidente sai quem fica no poder? É que não havendo uma proposta de liderança vai ser criado um vazio de poder, e isso é o caos, é a confusão. Este foi aliás o argumento para a defesa de um cenário de transição democrática, assente na conclusão do mandato de Mubarak. Mubarak chegava mesmo, qual pai condescendente, a demonstrar-se capaz de compreender algumas reivindicações, mas dizia-se incapaz abandonar o país num momento tão difícil deixando atrás de si um vazio de poder. As pessoas já tinham expressado a sua vontade, tinham sido ouvidas, agora seria tempo de voltarem a casa, deixarem o governo do país para quem de direito. Como é claro, o povo, a gente egípcia que ocupava a praça não se demoveu. Não pretendia apenas apresentar um rol de queixumes. Tinha um objectivo claro – a demissão do presidente e, com isso, o fim de um regime de décadas de ditadura. Não era de um vazio de poder que se tratava. O que gente egípcia que se foi juntando aos milhões naquela e noutras praças pretendia era o fim de um poder, para podere tomar os seus destinos nas suas mãos. Sabia que isso só era possível começando de novo, do zero.

O protesto da geração à rasca surge numa altura em que imaginário da revolução egípcia estava bem presente. A revolução egípcia teve esse impacto: tudo era possível na vontade e persistência de ocupar as ruas. Trouxe alento para aqueles/as que sentiam necessidade de reinventar a luta, que precisavam de alguma coisa para acrescentar sentido ao protesto. E é neste imaginário que se afirma a geração à rasca. Os Deolinda expressaram a decepção de uma geração. Quem convocou o protesto da geração à rasca soube convocar essa decepção num manifesto e numa data do protesto. Os Homens da luta trouxeram alegria à luta. A novidade foi a lucidez e o humor, o rir para não chorar, o animar para não acomodar. Tudo isto sem “a” liderança, sem "o" programa, sem o dia antes nem o dia depois programados. Nem era preciso. Afinal tratava-se da geração "eu já não posso mais!"; Que esta situação dura há tempo demais.

Tudo isto faz uma confusão terrível, se não tem liderança é porque o movimento é frágil, se não tem programa é porque não sabem o que querem, se convocaram o protesto é porque querem a demissão de alguém [se no caso egípcio a bandeira era a demissão do presidente, no nosso caso, vá-se lá entender porquê, o que era preciso, é óbvio, era a demissão da “classe política"]. Afinal, muitos concluíram, a geração não sabe o que quer, é irresponsável, sempre é rasca. Ou então sabe, e isso é perigoso. O que ninguém entende é que o principal objectivo do movimento não era disputar “o poder” [até podia ser, mas não era esse o caso], mas disputar agenda com “o poder”., impor a sua agenda de problemas, anseios, expectativas. Ou ninguém reparou que se deu uma grande reviravolta na agenda política do país, que deixamos de passar o dia todo a discutir a inevitabilidade das medidas de austeridade e a ameaça do FMI, para passar discutir a inquietação de uma [ou várias] gerações? Que deixamos de falar de números para passar a falar de pessoas? Que deixamos de falar de gente impotente, para falar de lutadores e lutadoras? É verdade, o lindo neste movimento foi reapropriação da agenda do poder, poder enquanto capacidade de produzir resultados, capacidade de produzir mudanças. Não pretendendo disputar "o poder", lançou uma agenda capaz de contribuir para a produção resultados. Foi isso que fez agitar o poder instituído, pelo menos aquele que nos queria fazer acreditar que não há vida além do défice.

Se o movimento não tem liderança, nem partido, se não tem programa, isso é, para muita gente, sinal de que há um "vazio" de poder, não faltando quem queira ocupar esse "vazio". Quando vejo o Presidente-de-todos-os-portugueses-que-nada-tem-a-ver-com-os-políticos [a não ser o facto óbvio de ter sido um dos políticos que mais influiu no rumo do país ao longo dos últimos 30 anos] a colar-se à geração à rasca, como se nada tivesse a ver com estado actual de coisas, não consigo deixar de pensar: olha a grande lata do Sr. Presidente. E a sua lata traz um extra, ao procurar assumir uma liderança e impor um programa: ao fazê-lo, Cavaco procura tomar as rédeas de uma agenda que não é a sua, que foi imposta a partir de baixo, procura tomar as rédeas sobre os resultados do movimento da geração à rasca. Ora, é exactamente a disputa sobre esses resultados o grande desafio que está colocado ao movimento [potenciador de vários movimentos] no [e no pós] protesto do dia 12. O desafio é o do debate sobre políticas, a procura de respostas para a crise actual. O desafio é a criação e valorização de espaços e meios para esse debate. Haja movimento e alegria para isso.

terça-feira, 8 de março de 2011

A proibição do uso do véu

A 8 de Março de 2011, dia escolhido pelas mulheres egípcias para realizar uma manifestação por uma constituição que consagre a defesa dos direitos das mulheres, publicamos um texto escrito em 2004 por Paula Tavares sobre a polémica da proibição do uso do véu em França [texto disponível no site Memória e Feminismos]. O texto da Paula é uma abordagem lúcida a uma questão complexa, e faz um alerta fundamental: a sociedade civil tem que acordar e olhar para as verdadeiras causas em vez de se deixar entreter com os enfeites. Aqui fica o texto desta bióloga, investigadora e activista ambiental e feminista, tragicamente desaparecida a 8 de Setembro de 2009. Uma homenagem à Paula. A expressão de toda a solidariedade com as mulheres egípcias.

A proibição do uso do véu
escrito por
Paula Tavares, em 2004

Imaginem a obrigatoriedade de usar saias compridas. Tal uniformização ao ser imposta parece-me sinónimo de opressão. Agora imaginem o contrário, que não se podiam usar saias compridas nos locais de ensino público. Não seria também isso uma forma de opressão para os que adoram as roupas em questão?

Também a opressão para as mulheres muçulmanas não reside só na obrigatoriedade do uso do véu, mas também agora na proibição desse véu. Perante a proibição do uso do véu, o seu próprio uso será agora ele próprio um comportamento de libertação face à proibição. Então de onde vem então a falta de liberdade? Vem do véu ou da sua proibição? De ambas. Entenda-se aqui o véu como sendo também o lenço na cabeça a esconder o cabelo, pois também é isso que a lei proíbe.

Não estamos a falar de burkas em que não se vêem os rostos (cujo uso é questionável por razões de segurança). Estamos a falar de lenços sobre o cabelo! Cada uma dessas mulheres não está sozinha nessa prática de cobrir o cabelo com um lenço. Está inserida num contexto social com núcleos familiares de grande interdependência nomeadamente económica, sobretudo nos sectores mais pobres. A proibição arrancará muitas mulheres de meios heterogéneos como é o caso das escolas públicas e remeterá essas mulheres para meios de condutas e ideias muito uniformizadas como é o caso das escolas islâmicas. E por sua vez, na falta de escolas islâmicas em número suficiente muitas mulheres ficarão privadas do ensino e aí sim verão a sua liberdade verdadeiramente afectada por não continuarem a sua escolaridade.

O governo francês com a proibição de símbolos religiosos ostensivos em escolas públicas estará mesmo a querer libertar os jovens de uma forma de opressão face ao domínio religioso da sua família? Ou não estará antes a marginalizar os que pertencendo a famílias mais conservadoras se recusem a abandonar esses símbolos? Estará o governo francês mesmo preocupado com a liberdade religiosa dos cidadãos franceses e com a laicidade do estado? Será esta a melhor forma de travar o avanço do fundamentalismo religioso? Ou não será antes um tiro no sapato, uma vez que os movimentos tendem a beber a sua força em medidas como estas.

Não estará o governo francês a exercer uma forma de controlo mesquinho sobre os milhões de muçulmanos em França? Garantir a liberdade religiosa implica impedir a expressão da religiosidade de cada um? Implica impor a expressão de uma laicidade mesmo que falsa? Ao concordar que o fundamentalismo religioso pode tornar-se um perigo em termos das garantias individuais e da livre expressão de pensamento, então questiono a forma de o enfrentar. Será esta lei a forma correcta?

O que o estado francês está a fazer é atacar o mal de fora para dentro. Quando a meu ver isso deve ser feito precisamente ao contrário: de dentro para fora. A libertação face a comportamentos uniformizados só pode ser um caminho individual e fruto da livre opção de cada um. Não pode ser imposto por um estado, que se julga agora regulador do comportamento e da expressão da identidade de cada um. A laicidade é a meu ver um valor, mas não deve ser utilizado como imposição face a qualquer expressão de religiosidade.

Sou laica porque assim me revejo. Mas se me apetecer usar um lenço na cabeça, quem é um estado para me proibir? Quem é essa entidade estado para determinar que um lenço na cabeça se trata de um símbolo religioso ostensivo? Pode ser ou não. E mesmo que seja? Então e as beirãs? Mulheres que ainda hoje gostam de usar lenço, pressuponho que em parte pelas mesmas razões que os homens usam chapéus. Lenços coloridos para se protegerem do sol no campo e depois uns lenços mais discretos para ir à igreja. Todos esses lenços viraram entretanto a forma de expressar a identidade de uma cultura. Se é verdade que o uso do lenço não foi mantido pelas gerações mais novas, o mesmo não se pode dizer de outros símbolos como a cruz ao peito ainda hoje em uso e associado ao catolicismo. Esse não perdeu força. E vamos agora combater a influência do catolicismo limitando o uso da cruz ao peito? Um lenço a tapar o cabelo ou uma cruz ao peito não constitui nenhuma forma cruel ou irreversível de limitar um ser humano. Mas se assim for sentido por quem o usa deve ser o próprio a conseguir prescindir desse símbolo.

Ao contrário de outras formas, essas sim irreversíveis, como a excisão do clítoris em raparigas de 6 anos ou a circuncisão a bebés do sexo masculino, em que deve ser uma entidade supraindividual a garantir que tal não aconteça antes da idade adulta. Essas formas sim devem ser impedidas de ser impostas, pois são praticadas em idades muito jovens em que o indivíduo não pode decidir em consciência sobre o seu próprio corpo, agravadas pelo facto de muitas vezes deixarem lesões graves para toda a vida. Essas sim devem ser proibidas pois constituem uma violação ao direito que cada indivíduo deve ter de decidir sobre a integridade do seu corpo.

Agora o uso de um lenço na cabeça ou de uma cruz ao peito?
Esta lei do estado francês que afecta sobretudo os muçulmanos em França mas não só, deve ser combatida por todos os que não desejem ver a expressão da sua identidade comprometida ou a sua individualidade violada.

Qualquer dia temos a proibição do sinal na testas das indianas. E não só. Podemos imaginar a proibição do uso de coleiras pelos movimentos punk, a proibição da ostentação de tatuagens ou piercings, a proibição da ‘gay parade’, a proibição de um autocolante ao peito, ou de uma camisola com inscrições ou mensagens. Enfim arriscamo-nos à proibição de todas as formas de expressar a identidade relativamente a uma ideologia seja ela religiosa ou não, devido ao risco de isso poder potenciar um extremar de posições ou um conflito social.

Se é certo que a necessidade de identificação com a religião parece emergir sempre e de novo na humanidade, sendo aí que os interesses geo-estratégicos, políticos e económicos se estão actualmente a alimentar para fomentar e perpetuar guerras. Também é certo que é na injustiça social e na miséria que encontram o maior recrutamento de pessoas. Há excepções, mas o maior recrutamento vem de meios bastante pobres e marginalizados.

É nas pessoas que não têm emprego nem oportunidades de realizarem os seus sonhos, é nas pessoas que viram os seus familiares perseguidos e desaparecidos, é nas pessoas que já nada têm a perder, que a identificação face a um movimento fundamentalista (religioso ou não) surge mais facilmente como uma última missão. Portanto a sociedade civil tem que acordar e olhar para as verdadeiras causas em vez de se deixar entreter com os enfeites. E de novo aqui, em vez de grandes lideranças, urge a manifestação da consciência em cada um de nós.

domingo, 6 de março de 2011

esta é dedicada a tod@s @s desempregad@s do nosso país



imaginação ao poder.
e pessoas boquiabertas, e mal estar nas cadeiras, e a surpresa, como que esperançosa de que uma maré revolucionária se avizinha.
e mais uma vez a música tem poder.
resta dizer, luta, luta, camarada, luta.
cá por mim, ainda estou em estado de choque...

Em Angola, quebrando o gelo



Mobilização para o protesto dia 7 em Luanda:
Se vivermos até lá...
Ti Zé tira o pé, tô prazo expirou há bwé


sexta-feira, 4 de março de 2011

Colectinvidualizando

Tu te sentes mais indivíduo ou mais colectivo?

Melhorando a pergunta: Alguma vez você se sentiu mais colectivo que indivíduo?
Complexificando um pouco mais: Já fizeste o exercício de tentar ser e viver mais colectivamente do que individualmente?
Psicologizando um pouco: Tens medo de perder a tua individualidade em um colectivo?
Teorizando: Consegues pensar o indivíduo sem estar em um colectivo e um colectivo sem ser composto por indivíduos?
Confrontando: Achas que tens mais força individualmente ou colectivamente?

Subjetivizando: Consegues amar sozinh@?

inside out



as ruas, os telhados, os comboios, os muros, com as caras das pessoas, não sei se vou mudar o mundo, mas cada vez que vejo um sorriso na cara das pessoas....
Em Inside out, um projecto artístico de grande escala que transforma mensagens de identidade pessoal em peças de trabalho artístico.

As pessoas, o poder e a política

o indivíduo separado, livre, igual é uma ficção eficaz:
está na base da legitimidade das nossas sociedades
Florence Weber

Há cerca de meio ano tive a oportunidade de assistir a uma conferência proferida por Immanuel Wallerstein sobre crise sistémica. Um termo algo pomposo para abordar uma questão que tudo tem a ver com o nosso dia-a-dia: o mundo, tal como o conhecemos desde a década de 70 e cujos contornos parecem-se ter definido melhor a partir da década de 90 (após queda do Muro de Berlim), é algo que está em aberto. Um sistema em ebulição, no qual parece ser imprevisível prever o dia de amanhã. Não conhecendo profundamente a sua teoria dos sistemas, nem tendo tido oportunidade de comparar a sua teoria com a de outros/as teóricos/as, tenho poucas dúvidas que estamos perante uma crise sistémica, e há três argumentos apresentados por Wallerstein que me têm feito reflectir: primeiro, que a crise torna o sistema bastante sensível às forças a que estiver sujeito; segundo, que estamos numa crise de fim de sistema, ou seja, o que vem a seguir, tenderá a ser qualitativamente bastante diferente do que existe actualmente; terceiro, essa coisa tenderá a ser ou bem pior ou bem melhor, a mudança será tudo menos neutra.

Não tenho a mínima ideia se estamos ou não a assistir ao fim do sistema capitalista - reconhecendo no entanto que muita coisa tenderá a mudar -, e muito menos que tipo de forma de organização social virá a seguir - isso requereria um exercício de futurologia que não me sinto capaz de fazer -, mas o argumento da vulnerabilidade do sistema às forças a que estiver sujeito (de resto, relativamente óbvio) tem-me feito pensar, e muito. O autor diz que, ao contrário de períodos de estabilidade em que produzir mudanças requer um esforço semelhante ao necessário para mover uma montanha (metáfora minha), em períodos de crise um pequeno movimento, ou uma pequena pressão podem ter efeitos tremendos. Por um lado, às vezes dou por mim pasmada em como actores como os mercados financeiros têm sido capazes de pôr e dispor de países inteiros; por outro, nunca uma crise englobou tantas crises [incluindo uma alimentar e uma ecológica], o que faz aumentar exponencialmente os efeitos do que quer que seja. Nos últimos tempos, tenho-me perguntado, e não serei a única, onde é que isto vai parar? É que o lema para pior já basta assim, não tem aqui cabimento: pior nem pensar, mas assim tampouco...

A propósito do post da Camila, e olhando o ambiente actual de vale de tudo [vale tirar trabalho, tecto, acesso a cuidados de saúde e medicamentos, ensino, ou sabe-se lá mais o quê... , isto tudo porque em nome da (ir)racionalidade do mercado, tudo tem de ter um preço] tenho me perguntado: Onde é que está a (ou há) humanidade nisto tudo? Como é que se condiciona esta coisa em ebulição indo além do jogo táctico, do perde-ganha? Isso remete-nos para uma questão de fundo: onde é que entram aqui as pessoas? Sobre isso tenho muito poucas dúvidas, embora a certeza seja apenas um esboço muito genérico: uma saída minimamente humana da crise, que não desemboque em algo fascizante, ou em barbárie, requer colocar as pessoas, e não os mercados, no centro das prioridades. Isso implica empoderá-las, colocá-las no centro da polis. Isso poderia ser tão simples, não é? O problema é que poder e política são palavras tão gastas no seu uso associado ao abuso, à corrupção, à demagogia, à incompetência, ao tacticismo, que se torna impossível fazê-lo sem definir os termos, e os usos dos conceitos de poder e política. Em suma, é necessário garantir uma reapropriação, pelas pessoas, dos conceitos de poder e de política. Esse será o tema dos meus próximos dois posts, um dedicado à questão do poder, o outra à da política.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Queremos outro mundo...




Como diz a faixa de um sótão que conheço...
O capital asfixia. A inércia atrofia.

Começam hoje as jornadas anticapitalistas.
A ir, a ouvir, a falar, a fazer...

quarta-feira, 2 de março de 2011

spot geração à rasca

Revolução pacífica na Islândia, media black-out

Que entre outras coisas soberbas incluiu um referendo, imposto pelo povo, para determinar se era para reembolsar ou não os bancos capitalistas que fizeram, pela sua irresponsabilidade, a Islândia mergulhar na crise...

Resultado: 93% do povo islandês disse que não...

Sobre esta coisa bonita mais info aqui: http://blog.nous-les-dieux.org/revolution-pacifique-en-islande-black-out-des-medias/

terça-feira, 1 de março de 2011

nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

Bertolt Brecht