sexta-feira, 29 de abril de 2011

Experiências alternativas de vida

Também as há...

Como esta Padaria abandonada é ocupada e distribui pão grátis

ou esta... ESpaço COLectivo Autogestionado do Alto da Fontinha

ou ainda esta... El escarabajo verde: Pueblos en transición

Como fazemos sem o direito à habitação?

A Câmara de Loures deu início a uma operação de despejo forçado de pessoas, cerca de 63 famílias, com crianças, idosos, mulheres, homens, alguns com problemas graves de saúde. As pessoas nesta situação não têm qualquer alternativa de habitação, de realojamento, de apoio. Têm apenas a rua.... Muitas delas trabalham, mas têm situações muito precárias que não lhes permite alugar uma casa no mercado de arrendamento e simultaneamente existir (comer, transportar-se, pagar luz, agua, gaz, etc....). Um T0 custa actualmente nunca menos do que 350 euros. Para quem não ganha mais do que isso, simplesmente não é possível.

Este tipo de operações têm acontecido em vários pontos da área metropolitana de Lisboa e do Porto. São extremamente violentas pelo atentado contra a dignidade humana, devassando-se a vida das pessoas, todos os seus pertences, etc.; e pela forte presença policial que usa a força bruta sempre que necessária. Vi muitas vezes a polícia e nunca os assistentes sociais nestas operações...

Como estamos a falar de pessoas muito pobres, imigrantes e pessoas da comunidade cigana é fundamental juntar mais apoio e mais solidariedade nesta luta que se inicia pelo Direito à Habitação. Há que ter presente também que hoje são as barracas a ser destruídas e as pessoas despejadas, mas amanhã serão os que vivem em casas arrendadas ou hipotecadas aos bancos e que deixaram de conseguir pagar. Pelo menos isso já estava previsto, através de um processo simplificado, no PEC IV apresentado pelo governo.

Esta luta é muito concreta e necessita de solidariedade.

A 28 de Julho o bairro uniu-se todo e foi para a Assembleia Municipal. Mais de 100 pessoas lá estiveram. Outras acções virão. Acompanhe, divulgue, solidarize-se.

A pornografia da miséria


Sábias palavras de um dos vice-presidentes da Comissão Política Nacional de Pedro Passos Coelho...
Estando muitíssimo comovida com @s pobres que ganhando 10.000 euros descontam 45% e ficam assim a ganhar apenas 5800, tenho mesmo de dizer-lhe - emigre, deixe-nos, cale-se, não chateie, mas essencialmente, algo bem mais simples: tenha vergonha na cara.

terça-feira, 26 de abril de 2011

E a burra sou eu?

O recibo, Manel



A cada dia que passa conheço um novo alguém que está farto de não conseguir encontrar emprego. Já não sei que diga.

À mesa com FMI 2

Consta que a reunião entre representantes do May Day e da Troika foi muito produtiva. Da reunião sairam vários compromissos sobre as políticas a seguir na resposta à crise: dos quais se destaca: o combate à precariedade e aos falsos recibos verdes; o combate ao desemprego; clarificação das responsabilidades reais quanto à divida soberana; a garantia de que a banca e o sector financeiro pagará os impostos devidos; SNS e sistema de pensões protegidos; cortes salariais só mesmo nos salários multimilionários.

Manifestando uma sensibilidade social imensa e assumindo a defesa de uma política económica progressista, a Troika afirmou-se ainda empenhada em reforçar a democracia participativa em Portugal.

Afinal, reunir com a Troika sempre tem alguma utilidade.



mais info em May Day Lisboa 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

quem cala consente

Democracia, 37 anos depois.


Este manifesto é um grito de alerta?
Miguel Cardina responde ao Público: Sim, de preocupação de gente que não existia no 25 de Abril de 1974. Vivemos num tempo em que quem manda é o FMI e os consensos alargados. Democracia não é isso, pressupõe debate e discussão de ideias. Era bom que neste momento eleitoral os partidos apresentassem alternativas e as pessoas decidissem. O que estamos a ver é uma espécie de apagamento do processo eleitoral. Convinha que os partidos fizessem política e não arranjos prévios. O manifesto é também um convite a que as pessoas saiam à rua, cada um com os seus activismos, para manter vivo o património cívico e simbólico do 25 de Abril que está em erosão.


O amor tem política? Tem política no amor?

(dedicado aos cravos)

Comecemos pelo que toda a gente sabe: O amor chega e ocupa tudo: o céu, as estrelas, a própria via láctea, os caracóis do quintal, as prateleiras do supermercado e os cabelos da vizinha. Entretanto, manda o FMI ir pastar urtigas. Tem até o seu quê de Maria Antonieta: Não há pão? Comam bolo! para ser depois antagónico: recusa a obsessão, a opressão, as classes e as castas. Ocupa a rua como ninguém.

(o amor é mágico: ouço-te a voz, meu amor, e viro borboleta. eu, que toda a gente sabe que sou pássaro)

O pessoal é político. O pessoal é económico. O amor é político, mas não económico (é um mãos largas). É revolucionário. Até a dormir, é utópico. É justo, mesmo quando nos parece injusto. Dói porque nos rouba a roupa, as máscaras, os hábitos. A violência não é amor. Nem o ciúme ou a posse. O amor não é para sempre, sorry. Tem, coisa tão simples, essa possibilidade.

Dois parágrafos depois reparo que praticamente só escrevi sobre o amor. Vou à procura da conexão para começar a falar de política. Não está fácil. O amor é político, mas à política de todos os dias na assembleia, por exemplo, falta-lhe amor. Falta-lhe essa coragem. A política do amor é apartidária e não vota, embora não seja impossível que seja democrática. Ou talvez o amor seja anarquista, quiçá... Eu diria até que poderia ser socialista, mas nunca fascista. Monárquico, jamais. Será o amor ideológico? Haverá, nestes dias que correm, a possibilidade do amor se ter tornado liberal, ou neoliberal, e estar a invadir o mercado desreguladamente? Aí teríamos de pôr um preço ao amor. Capitalizá-lo. Transformá-lo em acções. Pô-lo na bolsa. Verificar a sua viabilidade através das agências de rating. (Assusto-me: Poderá o amor entrar em crise???? Auch!!). Acho que já me arrependi de ter começado a escrever este texto... Só tenho perguntas e não vejo maneira de o concluir...

Por isso, como um intervalo, deixo-vos com uma música que fala de amor como se falasse de política. E fica em aberto a possibilidade. 

 


sábado, 23 de abril de 2011

Mas alguém acha que “isto está pior do que antes do 25 de Abril”?


O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Portugal e o 25 de Abril

Vou pela rua e oiço “isto está pior do que antes do 25 de Abril”. Uma vez. Outra vez. Mais uma. Entro no café e volto a ouvir. Passo na sala e vejo o Otelo (!!!!) a dizer o mesmo na televisão. Ai. OK. Agora vou ter de parar. Isto ou tem por detrás estratégias para fazer recuar a democracia em Portugal, de querer reescrever a história relativizando regimes autoritários, violadores dos direitos humanos e de querer condenar a tradição revolucionária (como já se tem tentado fazer noutros momentos), ou, simplesmente, significa uma preocupante mistura de ingenuidade com ignorância – além de óbvia memória curta.

Portanto – e aceitando a possibilidade de haver dúvidas – comparemos então a coisa através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Portugal, uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de "desenvolvimento humano" (que usa para isso os dados relativos à esperança média de vida, à educação e ao PIB per capita), a ver se nos esclarecemos.



1973 2009
Esperança média de vida 64,5 para os homens e 70,7 para as mulheres 75,8 para os homens e 81,8 para as mulheres
Educação (Taxa real de escolarização) 3,5% (Pré-escolar) 83% (1º Ciclo) 24,2% (2ºCiclo) 16,5% (3º Ciclo) 5% (Secundário)* 82,3% (Pré-escolar) 100% (1º Ciclo) 94,9% (2ºCiclo) 87,3% (3º Ciclo) 68,1% (Secundário)*
PIB per capita 219 15807,6

*A fonte destes dados é a Pordata. Não existem dados disponíveis na Pordata relativamente à taxa real de escolarização para o Ensino Superior senão a partir de 1978, mas o crescimento é enorme. Existem dados disponíveis relativos ao nº de pessoas inscritas discriminados por sexo desde 1960.

E, mesmo faltando o perfil de distribuição de renda (os dados não estão disponíveis senão a partir de 90) – que há quem proponha ser incluído na avaliação deste índice (o que faz bastante sentido) - ficou claro, não? Nós vivemos hoje melhor do que vivíamos antes do 25 de Abril. Ponto.

E vejamos: não estamos sequer a falar de liberdades e garantias, dessa coisa tão volátil quanto preciosa. Dessas coisas pequeninas, pequeninas e simples como poder escrever este texto sem que a censura mo reveja ou mo impeça, poder sair do país sem ter que pedir autorização ao pai ou ao marido, ter uma constituição onde diga que não sou discriminada pelo meu sexo, raça ou orientação sexual, dizer o que penso sem ser presa, poder me divorciar, aceder a profissões que antes não me era possível, vejam lá... só coisas pequeninas, realmente. Como esta, tão bonita, que nos diz o artigo 21º da Constituição: temos o direito de resistir. E resistir é absolutamente contrário a desistir ou a renegar.

A democracia é um processo inacabado. Claro. O 25 de Abril é um processo inacabado. Também. Agora não nos falte memória à vida insultando esse dia extraordinário em que a democracia chegou ao país, trazendo com ela liberdade. Pelo contrário, temos é de ir para a rua com os cravos, afirmar os nossos direitos de cidadania mais e mais uma vez – todas as que forem necessárias - dizer que não esquecemos e que é também nossa responsabilidade e vontade exigir e participar para que as conquistas de abril sejam um facto crescente. Dizer que não aceitamos que os direitos passem a ser chamados privilégios ou que o nosso principal dever de cidadania é a aceitação.

O problema não é ter acontecido Abril. O problema é o que ainda nos falta fazer para que Abril seja pleno. O problema é estarem a querer roubar abril das nossas mãos. 

também publicado em Portugal Uncut 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!

Setenta e quatro cidadãos e cidadãs nascidos depois de 25 de Abril de 1974 manifestam a sua inquietação perante «o ataque a algumas conquistas que fizeram de nós um país mais justo, mais livre e menos desigual», alertando para o facto de que a ofensiva que se prepara poder significar um «retrocesso sério, inédito e porventura irreversível». Na sua opinião, essa ofensiva situa-se em três eixos fundamentais: no campo do trabalho, no enfraquecimento e desmantelamento do estado social e na imposição de uma ideia de inevitabilidade que transforma a política numa mera ratificação de escolhas já feitas.

Entre os/as subscritores/as estão artistas, desempregados, académicos e activistas de vários movimentos sociais

Manifesto dos 74 Nascidos depois de 74: O Inevitável É Inviável

Somos cidadãos e cidadãs nascidos depois do 25 de Abril de 1974. Crescemos com a consciência de que as conquistas democráticas e os mais básicos direitos de cidadania são filhos directos desse momento histórico. Soubemos resistir ao derrotismo cínico, mesmo quando os factos pareciam querer lutar contra nós: quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva recusava uma pensão ao capitão de Abril, Salgueiro Maia, e a concedia a torturadores da PIDE/DGS; quando um governo decidia comemorar Abril como uma «evolução», colocando o «r» no caixote de lixo da História; quando víamos figuras políticas e militares tomar a revolução do 25 de Abril como um património seu. Soubemos permanecer alinhados com a sabedoria da esperança, porque sem ela a democracia não tem alma nem futuro.

O momento crítico que o país atravessa tem vindo a ser aproveitado para promover uma erosão preocupante da herança material e simbólica construída em torno do 25 de Abril. Não o afirmamos por saudosismo bacoco ou por populismo de circunstância. Se não é de agora o ataque a algumas conquistas que fizeram de nós um país mais justo, mais livre e menos desigual, a ofensiva que se prepara – com a cobertura do Fundo Monetário Internacional e a acção diligente do «grande centro» ideológico – pode significar um retrocesso sério, inédito e porventura irreversível. Entendemos, por isso, que é altura de erguermos a nossa voz. Amanhã pode ser tarde.

O primeiro eixo dessa ofensiva ocorre no campo do trabalho. A regressão dos direitos laborais tem caminhado a par com uma crescente precarização que invade todos os planos da vida: o emprego e o rendimento são incertos, tal como incerto se torna o local onde se reside, a possibilidade de constituir família, o futuro profissional. Como o sabem todos aqueles e aquelas que experienciam esta situação, a precariedade não rima com liberdade. Esta só existe se estiverem garantidas perspectivas mínimas de segurança laboral, um rendimento adequado, habitação condigna e a possibilidade de se acederem a dispositivos culturais e educativos. O desemprego, os falsos recibos verdes, o uso continuado e abusivo de contratos a prazo e as empresas de trabalho temporário são hoje as faces deste tempo em que o trabalho sem direitos se tornou a norma. Recentes declarações de agentes políticos e económicos já mostraram que a redução dos direitos e a retracção salarial é a rota pretendida.Em sentido inverso, estamos dispostos a lutar por um novo pacto social que trave este regresso a vínculos laborais típicos do século XIX.

O segundo eixo dessa ofensiva centra-se no enfraquecimento e desmantelamento do Estado social. A saúde e a educação são as duas grandes fatias do bolo público que o apetite privado busca capturar e algum caminho, ainda que na penumbra, tem sido trilhado. Sabemos que não há igualdade de oportunidades sem uma rede pública estruturada e acessível de saúde e educação, e estamos convencidos de que não há democracia sem igualdade de oportunidades. Preocupa-nos, por isso, o desinvestimento no SNS, a inexistência de uma rede de creches acessível, os problemas que enfrenta a escola pública e as desistências de frequência do ensino superior por motivos económicos. Num país com fortes bolsas de pobreza e com endémicas desigualdades, corroer direitos sociais constitucionalmente consagrados é perverter a nossa coluna vertebral democrática, e o caldo perfeito para o populismo xenófobo. Com isso, não podemos pactuar. No nosso ponto de vista,esta é a linha de fronteira que separa uma sociedade preocupada com o equilíbrio e a justiça e uma sociedade baseada numa diferença substantiva entre as elites e a restante população.

Por fim, o terceiro e mais inquietante eixo desta ofensiva anti-Abril assenta naimposição de uma ideia de inevitabilidade que transforma a política mais numa ratificação de escolhas já feitas do que numa disputa real em torno de projectos diferenciados. Este discurso ganhou terreno nos últimos tempos, acentuou-se bastante nas últimas semanas e tenderá a piorar com a transformação do país num protectorado do FMI. Um novo vocabulário instala-se, transformando em «credores» aqueles que lucram com a dívida, em «resgate financeiro» a imposição ainda mais acentuada de políticas de austeridade e em «consenso alargado» a vontade de ditar a priori as soluções governativas. Esta maquilhagem da língua ocupa de tal forma o terreno mediático que a própria capacidade de pensar e enunciar alternativas se encontra ofuscada.

Por isso dizemos: queremos contribuir para melhorar o país, mas recusamos ser parte de uma engrenagem de destruição de direitos e de erosão da esperança. Se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!

Subscrevem o manifesto do/as 74 por 74

  1. Alexandre de Sousa Carvalho – Relações Internacionais, investigador;
  2. Alexandre Isaac – antropólogo, dirigente associativo;
  3. Alfredo Campos – sociólogo, bolseiro de investigação;
  4. Ana Fernandes Ngom – animadora sociocultural;
  5. André Avelãs – artista;
  6. André Rosado Janeco – bolseiro de doutoramento;
  7. António Cambreiro – estudante;
  8. Artur Moniz Carreiro – desempregado;
  9. Bruno Cabral – realizador;
  10. Bruno Rocha – administrativo;
  11. Bruno Sena Martins – antropólogo;
  12. Carla Silva – médica, sindicalista;
  13. Catarina F. Rocha – estudante;
  14. Catarina Fernandes – animadora sociocultural, estagiária;
  15. Catarina Guerreiro – estudante;
  16. Catarina Lobo – estudante;
  17. Celina da Piedade – música;
  18. Chullage - sociólogo, músico;
  19. Cláudia Diogo – livreira;
  20. Cláudia Fernandes – desempregada;
  21. Cristina Andrade – psicóloga;
  22. Daniel Sousa – guitarrista, professor;
  23. Duarte Nuno - analista de sistemas;
  24. Ester Cortegano – tradutora;
  25. Fernando Ramalho – músico;
  26. Francisca Bagulho – produtora cultural;
  27. Francisco Costa – linguista;
  28. Gui Castro Felga – arquitecta;
  29. Helena Romão – música, musicóloga;
  30. Joana Albuquerque – estudante;
  31. Joana Ferreira – lojista;
  32. João Labrincha – Relações Internacionais, desempregado;
  33. Joana Manuel – actriz;
  34. João Pacheco – jornalista;
  35. João Ricardo Vasconcelos – politólogo, gestor de projectos;
  36. João Rodrigues – economista;
  37. José Luís Peixoto – escritor;
  38. José Neves – historiador, professor universitário;
  39. José Reis Santos – historiador;
  40. Lídia Fernandes – desempregada;
  41. Lúcia Marques – curadora, crítica de arte;
  42. Luís Bernardo – estudante de doutoramento;
  43. Maria Veloso – técnica administrativa;
  44. Mariana Avelãs – tradutora;
  45. Mariana Canotilho – assistente universitária;
  46. Mariana Vieira – estudante de doutoramento;
  47. Marta Lança – jornalista, editora;
  48. Marta Rebelo – jurista, assistente universitária;
  49. Miguel Cardina – historiador;
  50. Miguel Simplício David – engenheiro civil;
  51. Nuno Duarte (Jel) – artista;
  52. Nuno Leal – estudante;
  53. Nuno Teles – economista;
  54. Paula Carvalho – aprendiz de costureira;
  55. Paula Gil – Relações Internacionais, estagiária;
  56. Pedro Miguel Santos – jornalista;
  57. Ricardo Araújo Pereira – humorista;
  58. Ricardo Lopes Lindim Ramos – engenheiro civil;
  59. Ricardo Noronha – historiador;
  60. Ricardo Sequeiros Coelho – bolseiro de investigação;
  61. Rita Correia – artesã;
  62. Rita Silva – animadora;
  63. Salomé Coelho – investigadora em Estudos Feministas, dirigente associativa;
  64. Sara Figueiredo Costa – jornalista;
  65. Sara Vidal – música;
  66. Sérgio Castro – engenheiro informático;
  67. Sérgio Pereira – militar;
  68. Tiago Augusto Baptista – médico, sindicalista;
  69. Tiago Brandão Rodrigues – bioquímico;
  70. Tiago Gillot – engenheiro agrónomo, encarregado de armazém;
  71. Tiago Ivo Cruz – programador cultural;
  72. Tiago Mota Saraiva – arquitecto;
  73. Tiago Ribeiro – sociólogo;
  74. Úrsula Martins – estudante.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Se nós deixarmos, claro


O Poema Pouco Original do Medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos.

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo

(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos


in "Alexandre O'Neill - Poesias Completas 1951/1983”

Sapatadas de rua

pelo Miguel Januário +
-


le temps des cerises

Há entradas e entradas...


A pessoa que cozinhou uma entrada para os nossos mais recentes visitantes. Ou serão invasores?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

eu estou farta...

farta de pensar, exausta de ter fé, cansada de ser criativa (porque "a profissão que escolhi é caracterizada por isso", "a personalidade que tenho o exige", "a pessoa que sou teima em não saber fazer de outra forma" - explico-me...)
Agora, por cerca de 20 anos... apetecia-me ser avestruz...
ou emigrante.
(Ai, lá volta a criatividade!... bolas! Porque é que não posso ser uma simples e linda avestruz????) Emigrante, sim. Para um outro qualquer país terceiromundista como este em que vivo... mas, pelo menos, onde eu diga, com verdade, que não me aperta o tempo, a conta, o amor,
um país onde eu junte, livremente e em pé, quatro tábuas e construa um tecto numa terra que sem ser minha é de toda a gente e eu não pago por ela,
um país onde o que como é igual ao direito que tenho de estar viva, onde a minha saúde é cuidada por toda a gente como se eu fosse uma flor bonita, onde a terra que semeio dá para mim e para toda a rua, onde as pessoas com quem me encontro me dão sempre algo novo, me provocam, me estimulam, se trocam...
quero outrar-me hoje nesse país a construir!
Vou portanto hoje sonhar em paz. Sorrindo e dançando. Amanhã, quando acordar, espero que a revolução tenha acontecido. Porque eu... estou cansada.
E farta!

A poética política da poesia


Da poesia na política diz-se desnecessária.
Da política da poesia diz-se não ser parida.
Da política na poesia diz-se não serem filhas da mesma mãe.
(pai é incógnito e filhas da mãe é insulto que não percebo)
Da poesia da política não há. Não se vê. Faz-lhe falta.

Disseram-me que ambas estavam mortas...
Que era o fim dos tempos.

Comprei um ramo de rosas – pensei levar-lhes ao túmulo.
Procurei nas campas. Nada.
Fui a outro cemitério. Nada.
Fui ao cemitério onde está o Jim Morrison (vai lá muita gente). Nada.
Ao do Elvis não me apeteceu. (mas também vai lá muita gente)
-quase ninguém vai ao da minha avó. E ela era tão linda que morreu a dançar-

Vai ver não estão morridas, pensei. Nem mortas.

E veio-me logo à cabeça: Porra!!!!
Senhoras assim paridas de ventre incerto e insatisfeito,
quando morrem nascem, como as cabeças da Hidra.

E é nos dias em que paira a sua morte
em que nublados nos vemos os dias
em que, qual produção biológica dos corações multiplicados,
os corpos, os sexos e as lutas se alimentam,
que elas inauguram o futuro que ainda não há.

Gosto das duas. Separadas e entrosadas.
Insatisfeitas, incompletas, (in)sustentáveis.
Tontas como as baratas.
Nossas.
Isso!!!... Nossas.

Nossas, como a liberdade.

E se o meu gato contrair uma dívida?


Concebendo as dívidas como pedras no sapato de toda a gente, pergunto-me eu como podemos nós descalçar os sapatos? É a filha, é a mãe, é o tio, é a amiga da tia da prima do Alexandre, é até o caraças do país. Tod@s têm a sua conta. E não começa a parecer estranho? Não começa a esticar uma dor aguda no calcanhar? Não estranhamos nós viver em função de dívidas que nos fazem pagar sempre muito mais do que aquilo que recebemos. Que sobem e sobem ao sabor das taxas de juros.

Na escola disseram-me que estávamos a construir uma Europa. Aberta. Social. Carregadinha de vantagens económicas. Aberta para tod@s, menos para quem foge da miséria em que se tornou os seu país endividado. Social para os pobres dos jogadores de golfe, que pouco ou nada têm para jogar o seu jogo descansadinhos.

E volto eu a perguntar-me. Vantagens económicas para quem? Vá, digam-me lá. É que ando há meses a espreitar os bolsos do meu país e só vejo buracos sem fundo. E ainda temos de assistir ao despudor de Merkeis, e afins, deveras aborrecidas com Portugal por não ter aprovado o PEC4. Ou virem-me dizer que no dia seguinte a Portugal aceitar ajuda externa, “os maiores bancos privados nacionais ganharam 350 milhões de euros num dia”. O quê? Devem pensar que por ter sido no dia seguinte nós não percebemos que foi por nossa causa. Por causa dessa hipocrisia caritativa de nos virem ajudar. Querem-nos burr@s e asseadinhos, a injectar barris de dinheiro nos Bancos fofos que tiveram pena de nós. Querem-nos a sangrar do pé, porque a pedra cresce e ninguém percebe como. Querem mesmo que deixemos de caminhar. Que paremos, coxos da gangrena em que as nossas pernas se tornaram.

Ganhar 350 milhões de Euros com a desgraça de um país é obsceno. Ganhar 4 mil euros com os estudos de um/a jovem é vergonhoso. Não, não quero a bengala de quem nos pôs coxos. Mas como sempre não nos perguntaram nada. Fico-me com saudades de uma Islândia que não é Islândia porque é Portugal. Um país que decidiu que as pessoas têm a possibilidade de tomar as rédeas das suas vidas e do seu país e que não encha os cofres de quem roubou os nossos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ricardo Salgado, um Banqueiro (a) Sério

Ricardo Salgado, Presidente do BES, diz que se verificaram exageros por parte das agências de rating, mas quando questionado sobre se há alternativa, este banqueiro tão sério responde que “há, mas neste momento não. O mercado funciona orientado pelas agências de rating”, explica.
Depois da sua fabulosa actuação na mobilização da banca pelo pedido de ajuda externa, não posso deixar de reconhecer: Ricardo Salgado, é de facto, um banqueiro a sério. Dedico-lhe pois esta linda musiquinha dos Devine Comedy, cuja tradução em português poderás encontrar em Portugal Uncut.



Ah, é verdade, depois de ouvir a musiquinha não deixes de assinar a petição que defende a abertura de um inquérito à actuação das agências de rating. É que há alternativas, sim senhor. São para hoje, não para um dia qualquer. E muito menos no talvez quem sabe...

Post também publicado em Portugal Uncut.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Será o sexo coisa inútil?

A propósito do requerimento do PCP acerca de uma campanha pela utilização de preservativos por trabalhadores/as do sexo, lembrei-me da definição marxista de força de trabalho [Cap. VI d'O Capital, sobre compra e venda da força de trabalho; vale a pena, para quem ainda não leu, embora dando o devido desconto quanto ao facto de só se falar em homens]:

"efectivamente, o nosso homem encontra uma mercadoria dotada dessa virtude específica que se chama potencia de trabalho, ou força de trabalho. Sob este nome compreende-se o conjunto de faculdades físicas e intelectuais existentes no corpo do homem, e que o homem deve pôr em movimento para produzir coisas úteis."

Eu até compreendo a perspectiva de uma visão das relações amorosas e afectivas onde não caberia a necessidade de compra de produtos e serviços sexuais... Mas entretanto, considerando a definição marxista de força de trabalho e esta reserva em considerar os/as trabalhadores sexuais como força de trabalho, fiquei intrigada: será o sexo coisa inútil?

Sei que é tema complexo e polémico, e que haverão as mais variadíssimas posições entre quem é marxista. Aqui fica o meu contributo para um debate que vale a pena: afinal não é a dignidade e a vida de muita gente que está em causa quando falamos de questões como as doenças sexuais transmissíveis, as situações de estupro, ou a completa desprotecção laboral e social?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Alimentos: direito ou mercadoria?

Jornadas internacionais sobre
movimentos campesinos e
transformações agrárias

Madrid e Bilbao, 11 a 14 de Abril


Decorre em Madrid e Bilbao, as jornadas de debate sobre movimentos campesinos e transformações agrárias. Uma iniciativa que tem por objectivo continuar a fomentar a reflexão crítica e o diálogo académico-activista sobre as lutas sociais e a renovação dos espaços rurais. Assinale-se ainda o encontro Reflexões feministas sobre a soberania alimentar, realizado neste fim de semana.

Numa altura em que já se começou a perceber que uma coisa tão básica como garantir o acesso de todos/as à comidinha para o prato - em especial comidinha de qualidade e ecologicamente sustentável -são assuntos que não estão minimamente resolvidos, trata-se de um espaço de debate a acompanhar com atenção.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Estúpid@s uma ova: Economia e justiça cognitiva

A justiça cognitiva é um conceito que parte da noção de que a dominação e a exploração não são apenas causadas pelo controle da produção material, mas também pelo controle dos meios de produção do conhecimento. A economia que nos está a ser ditatorialmente imposta absorveu muito bem a importância de explorar o reverso deste conceito – às vezes parece-me que a frase tão vulgarizada “É a economia, estúpido!” concorre precisamente para esse objectivo – o de nos querer impor a ideia de sermos estúpid@s e que, por isso, não somos capazes de compreender algo tão complexo e tão fora das nossas mãos como a economia. Impõe e alimenta, portanto, a injustiça cognitiva. E fá-lo muito eficazmente, usando as três dimensões do poder na perfeição: no discurso, nas práticas e nas instituições. Observar o que tem ditado os rumos da governação em Portugal (e não só) e da sua suposta alternativa é um exemplo acabado disso. Eu diria mais: a economia de mercado conseguiu auto-ascender à categoria de divindade de tal forma que deveríamos substituir na Constituição o estado laico pelo estado oikolibermercatus [estado de mercado livre].
Nada poderia ser mais errado: nós percebemos a economia na nossa vida de todos os dias, seja ao ir ao supermercado e pagar cada vez mais, no recibo de salário (quando o temos), na declaração de irs, no que pagamos para estudar ou por estar doente, nas taxas que pagamos aos bancos por tudo e - muitas vezes - por nada, ou na miraculosa matemática de pedir um empréstimo de dez mil euros para pagar depois o dobro. E entre uma rotina diária e outra percebemos o essencial desta economia onde nos andam a obrigar a viver: que está centrada em apenas algumas pessoas – as muito ricas; que nos obriga a viver cada vez pior para pagarmos os erros gerados nessa própria lógica ultraliberal, e quem sustenta essa lógica não só não se responsabiliza pelos erros cometidos, como rejeita qualquer possibilidade de alternativa. E finalmente compreendemos também, e muito facilmente, que as instituições de crédito que sustentam este modo económico, o capitalismo, só têm dinheiro para emprestar quando lhes interessa e que aquilo que ganham em lucros é um dinheiro que não sabemos nem temos o direito de saber para onde vai e que de forma alguma poderá contribuir para ajudar o país a sair da crise.
Se somarmos a este conhecimento mais algum do terreno das abstracções supostamente neutras que este sistema nos tem vindo a fazer engolir, como “mercados” e “agências de rating”, que não sendo obviamente abstracções ou neutras, pois são simplesmente pessoas com interesses económicos específicos que se podem descrever, na generalidade, como: ficarem cada vez mais ric@s à custa do trabalho e da exploração da maioria de nós, teremos compreendido o capitalismo no seu todo e poderemos começar a afirmar coisas muito importantes:
  1. Que a treta que nos andam a tentar enfiar, de que o nosso conhecimento – nós, pessoas comuns, não economistas – não é suficientemente válido para nos permitir questionar os ditames económicos não passa disso mesmo, de uma treta;
  2. Que, portanto, estúpid@s uma ova - a economia molda uma parte importante da nossa vida e sobre a nossa vida percebemos e decidimos nós;
  3. Estúpido é acreditar que uma economia assim funciona ou interessa a mais alguém além daquel@s que enriquecem com ela;
  4. Que apenas nos interessa uma economia que coloque o desenvolvimento sustentável da vida humana, do meio ambiente e do bem estar colectivo no centro da organização económica e territorial. Que esse é um desejo mais do que legítimo e realizável e que qualquer outro modo económico é uma mistificação alimentada não só por interesses económicos obscuros como também pela comentação televidiota que pretende alimentar o status quo;
  5. Que questionamos a sociedade de mercado, na qual o padrão de relação entre as pessoas, destas consigo mesmas e com o seu corpo, e destas com a natureza é um negócio onde tudo o que importa é o lucro;
  6. Que questionamos também os paradigmas da economia dominante que reconhece apenas a produção do mercado e esquece a reprodução social, a “produção” de pessoas e da vida, como contributos essenciais para a economia;
  7. Que exigimos justiça cognitiva, fazemos por ela e exigimos também justiça na distribuição (de recursos produtivos e de renda), no reconhecimento (das contribuições variadas dos diferentes grupos sociais) e na representação (na linguagem e em todo o domínio do simbólico).

    Também publicado no Portugal uncut

quinta-feira, 7 de abril de 2011

MSC - Nossa luta é para crescer!

Na manifestação à rasca ouvia-se uma palavra de ordem assim: ”Quero procriar,mas não tenho como pagar”. Pois é, uma geração da casinha dos pais, como vai pensar em ter filhos???

Mas no meio dessa loucura toda, ainda tem gente que se aventura. Sim porque ter filhos é maravilhoso e esse é um dos direitos mais lindos e humanos que não devemos deixar nos tirar, muito menos precarizar.

Porque digo precarizar? Porque para aquel@s que já se aventuraram em ser pais e mães sabem como essa condição é precarizada pela falta de tempo de poder estar com os filhos, ocasionada pelo excesso de trabalho, pelo excesso de formação continuada para melhorar de salário, e por aí adiante.

E quando você já nem tem muito tempo para estar com os filhos, você pelo menos pensa em ter espaços educativos bons, de qualidade e segurança, que assim ao menos @s pequenin@s estão longe mas bem entregues, porém... Agora entro na questão principal desta convocatória: Onde estão as creches neste país???

Quando eu estava grávida já ouvia um burburinho do tipo: já estás procurando creche? Na altura não queria acreditar que era hora para pensar nisso, mas quando estava perto de voltar a trabalhar, e comecei a procurar informações, vi o caos instalado. Nos fóruns de mães pela internet tem mulheres que já reservam vagas em creches antes mesmo de ficarem grávidas! E a reserva é paga, numa média de 60 euritos! Até mesmo em creches de luxo tem fila de espera. Então, como é que o pessoal se desenrasca? Muita gente recorre novamente à casinha dos pais, dessa vez com a função creche, ou seja, nossos pais nos seguram até os 30, para aos 35 segurarem nossos filhos - esses coitados não tem mesmo descanso!

Mas tem gente que não pode contar com esta bela ajuda, e aí se vê na caça infindável por creche. As subssidiadas pelo Estado são raras, com filas de espera que pode chegar a 1 ano e meio, e as poucas que apresentam vagas, apresentam também péssimas condições e por vezes apresentam padres suspeitos (me desculpem @s católic@s, mas eu não confio!)

Um senhor chamado José Sócrates (esse que é muito preocupado em como seu olhar penetrante está sendo exibido em cadeia nacional) uma vez em campanha eleitoral prometeu ampliar as redes de creche. Não preciso nem dizer o óbvio, o dito cujo não só não ampliou as creches como baixou os rendimentos para atribuição do abono família.

Então me digam, como procriar? Em se procriando, como trabalhar? Onde deixar seu filh@?

Nessa situação é claro que as mulheres são as mais atingidas pela falta das creches, e que acabam deixando suas carreiras e trabalho por falta de opção.

Por isso quero fazer uma convocatória a você que é pai, mãe, avós, tios e jovens que um dia pensam em ter seus filhos, que entrem para o MOVIMENTOS D@S SEM CRECHE! NOSSA LUTA É PARA CRESCER!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Savoir faire no anuncio do disparate



Pois é, é preciso saber manter a elegância, mesmo quando se anuncia uma decisão política desastrosa, tomada por um governo demissionário. Porque, como assinala a nossa querida Bobone, a etiqueta dos grandes acontecimentos da vida, tem um papel de legitimação simbólica, sem arbitrariedades. Ela assegura a hierarquia, respeita as classes, os títulos e o aparato. Ela é a própria lógica do prestígio e da racionalidade social.

Portugal uncut: porque a austeridade é cega e não quer ver

A ideia veio de Inglaterra, de um movimento social contra os ventos de austeridade que lá, como cá, sopram muito forte, demasiado forte. Os cortes anti-sociais são, lá como cá, tão fortes que é impossível tolerar. Os primeiros resultados em Inglaterra são impressionantes: multiplicaram-se as denúncias e as mobilizações de base local, mostrando que a manutenção dos previlégios de alguns é feita à custa das privações de outros; a 26 de Março, realizou-se uma das maiores manifestações desde os protestos contra a guerra do Iraque. É que Os cortes não são a cura, dizem eles e elas.

Um movimento do tipo #uncut em Portugal faz todo o sentido e vem ocupar um espaço que não existe. O espaço de contestação à lógica da precarização das relações laborais ampliou-se muito [e ainda bem!], especialmente depois do protesto da geração à rasca, No entanto, há uma dimensão das políticas anti-sociais, a da precarização dos direitos sociais [direito à saúde, à educação, à protecção social], que não tem não tem gerado mobilização social generalizada.

Trata-se de uma luta particularmente difícil de fazer quando todos os dias somos bombardeados com a ideia de um Estado despesista, encarado como uma sobrecarga para o comum cidadão e um confortador de previlégios de alguns. Um problema ao qual, argumenta-se, é necessário responder com o “rigor” da austeridade, condição necessária para diminuir o divida pública e um garante de justiça social. Demagogia pura.

Se há coisa que os sucessivos PEC’s têm vindo a demonstrar, é que a austeridade é inumana, porque cega ao desastre social, às desigualdades sociais que vai alimentando. Afinal, os cortes incidem sobre quem mais precisa, poupando os bancos e as grandes fortunas. A austeridade nada tem a ver com justiça social, apenas acentua as diferenças de poder, as diferenças de recursos. Na verdade, a austeridade é cega e nem quer ver.

sábado, 2 de abril de 2011

Os ninguéns

As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

Eduardo Galeano

Rota contra o assédio sexual


Apesar da progressiva consciencialização acerca do problema da violência doméstica, a cultura patriarcal persiste e sustenta práticas sociais que impedem um combate efectivo à violência contra as mulheres. Isto é ainda mais problemático no que concerne ao assédio sexual.

Este projecto visaria focar este problema contribuindo para a mudança social neste âmbito. Através da realização de uma ‘Rota dos Feminismos’ subordinada ao tema do Assédio Sexual, pretende-se alertar, consciencializar e espoletar políticas sociais para combater este atentado aos direitos humanos das mulheres.