sexta-feira, 15 de abril de 2011

A poética política da poesia


Da poesia na política diz-se desnecessária.
Da política da poesia diz-se não ser parida.
Da política na poesia diz-se não serem filhas da mesma mãe.
(pai é incógnito e filhas da mãe é insulto que não percebo)
Da poesia da política não há. Não se vê. Faz-lhe falta.

Disseram-me que ambas estavam mortas...
Que era o fim dos tempos.

Comprei um ramo de rosas – pensei levar-lhes ao túmulo.
Procurei nas campas. Nada.
Fui a outro cemitério. Nada.
Fui ao cemitério onde está o Jim Morrison (vai lá muita gente). Nada.
Ao do Elvis não me apeteceu. (mas também vai lá muita gente)
-quase ninguém vai ao da minha avó. E ela era tão linda que morreu a dançar-

Vai ver não estão morridas, pensei. Nem mortas.

E veio-me logo à cabeça: Porra!!!!
Senhoras assim paridas de ventre incerto e insatisfeito,
quando morrem nascem, como as cabeças da Hidra.

E é nos dias em que paira a sua morte
em que nublados nos vemos os dias
em que, qual produção biológica dos corações multiplicados,
os corpos, os sexos e as lutas se alimentam,
que elas inauguram o futuro que ainda não há.

Gosto das duas. Separadas e entrosadas.
Insatisfeitas, incompletas, (in)sustentáveis.
Tontas como as baratas.
Nossas.
Isso!!!... Nossas.

Nossas, como a liberdade.

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