quarta-feira, 6 de abril de 2011

Portugal uncut: porque a austeridade é cega e não quer ver

A ideia veio de Inglaterra, de um movimento social contra os ventos de austeridade que lá, como cá, sopram muito forte, demasiado forte. Os cortes anti-sociais são, lá como cá, tão fortes que é impossível tolerar. Os primeiros resultados em Inglaterra são impressionantes: multiplicaram-se as denúncias e as mobilizações de base local, mostrando que a manutenção dos previlégios de alguns é feita à custa das privações de outros; a 26 de Março, realizou-se uma das maiores manifestações desde os protestos contra a guerra do Iraque. É que Os cortes não são a cura, dizem eles e elas.

Um movimento do tipo #uncut em Portugal faz todo o sentido e vem ocupar um espaço que não existe. O espaço de contestação à lógica da precarização das relações laborais ampliou-se muito [e ainda bem!], especialmente depois do protesto da geração à rasca, No entanto, há uma dimensão das políticas anti-sociais, a da precarização dos direitos sociais [direito à saúde, à educação, à protecção social], que não tem não tem gerado mobilização social generalizada.

Trata-se de uma luta particularmente difícil de fazer quando todos os dias somos bombardeados com a ideia de um Estado despesista, encarado como uma sobrecarga para o comum cidadão e um confortador de previlégios de alguns. Um problema ao qual, argumenta-se, é necessário responder com o “rigor” da austeridade, condição necessária para diminuir o divida pública e um garante de justiça social. Demagogia pura.

Se há coisa que os sucessivos PEC’s têm vindo a demonstrar, é que a austeridade é inumana, porque cega ao desastre social, às desigualdades sociais que vai alimentando. Afinal, os cortes incidem sobre quem mais precisa, poupando os bancos e as grandes fortunas. A austeridade nada tem a ver com justiça social, apenas acentua as diferenças de poder, as diferenças de recursos. Na verdade, a austeridade é cega e nem quer ver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário