terça-feira, 29 de novembro de 2011

24 de Novembro - Quem são os violentos?

A Plataforma 15 de Outubro, internacionalista, apartidária e pacífica, reivindicando a reposição da justiça e da verdade no que diz respeito aos eventos do dia 24 de Novembro, declara:

  1. Testemunhámos e denunciamos a presença de polícia não fardada e não identificada na manifestação de 24 de Novembro em frente a São Bento. Estes elementos, entre os manifestantes, incitaram à violência com palavras e acções, ao contrário do que afirmou inequivocamente o Ministro da Administração Interna. Esta acção da polícia de um Estado de Direito e dito “democrático” configura uma ilegalidade e um crime. A acção da polícia nos piquetes de greve deste dia pautou-se igualmente pela ilegalidade e repressão, tendo-se apresentado nos locais onde se encontravam os piquetes armada com caçadeiras e metralhadoras, além de ter sido enviada polícia de intervenção para atacar e romper os piquetes.
  2. Repudiamos ser, consciente e propositadamente, apelidados de “delinquentes”, “criminosos” e outros adjectivos que claramente configuram um insulto pessoal e colectivo, com o único objectivo de anular a Plataforma 15 de Outubro como sujeito político. Foi impedida a realização da Assembleia Popular prevista para as 18h00, hora em que começaram os distúrbios. Está a ser construída, consciente e propositadamente, uma narrativa de terror social que visa claramente criminalizar o movimento social e os eventos da Greve Geral e manifestação que, tendo sido um grande sucesso, é minorada pela construção de factos e eventos de “violência” por parte das estruturas de poder.
  3. Manifestamo-nos contra a detenção avulsa de pessoas isoladas, outra tentativa de reforçar esta narrativa criminalizadora.
  4. Somos e continuaremos a reivindicarmo-nos como uma plataforma de acção política pacífica e não aceitaremos ser, como colectivo, associados a qualquer acto de violência que cidadãos em nome individual possam cometer na demonstração da sua legítima revolta.
  5. Rejeitamos a inversão total e propagandística da verdade que está em curso, procurando apelidar de violentas pessoas e movimentos que procuram defender os seus direitos e interesses de forma pacífica. A violência das medidas de austeridade é que é indesmentível e por mais cortinas de fumo que por ela sejam lançadas, está à vista de todo o povo. Acusamos o governo de violência, directa e indirecta, sobre o país.
  6. Em resposta a esta campanha vergonhosa, informamos que convocaremos uma nova manifestação, a realizar no final de Janeiro.

Por tudo isto, a Plataforma 15 de Outubro exige:
  • A divulgação pública das provas audiovisuais, filmes e fotografias que demonstram claramente a presença e acção provocadora de agentes da polícia não identificados e não fardados dentro da manifestação que ocorreu no dia 24 de Novembro.
  • A abertura, por parte das entidades competentes, de inquéritos que visem a investigação da acção policial, nomeadamente o uso de violência sobre manifestantes isolados e a instigação à violência por parte de elementos não identificados e não fardados da polícia.
  • Que os meios de comunicação social, que tão prontamente assumiram esta narrativa distorcida dos acontecimentos, dêm espaço às informações que têm vindo a público, cumprindo o seu dever de informar e repôr a verdade dos factos.
  • Que sejam retiradas consequências do facto de terem sido proferidas publicamente inverdades por parte do Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, que reforçaram uma narrativa que não corresponde comprovadamente à verdade dos factos.
  • Que os detidos no dia 24 de Novembro sejam absolvidos, sendo tido em conta nos seus processos o facto de terem sido detidos de forma ilegal e abusiva através de agentes provocadores que, além do mais, incitaram delitos. Expressamos total solidariedade em relação aos companheiros e companheiras detidos nesse dia.

A criminalização da actividade política e da contestação é um sinal claro dos tempos em que vivemos, em que a Democracia é ameaçada e posta em causa justamente pelo Estado que tem como dever protegê-la. A tentativa de suprimir os acontecimentos históricos que foram a Greve Geral de dia 24 de Novembro e a expressão popular ocorrida na manifestação nesse dia serve de sinal de aviso às forças progressistas. Não permitiremos que vingue a tentativa de fazer com que o medo sufoque a legitimidade das reivindicações populares à dignidade e aos direitos e, como tal, estaremos novamente nas ruas, no final de Janeiro.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Diz que Outubro é mês de lutas mil



A acção testemunhada neste vídeo realizou-se há pouco mais de um ano, na manhã de 30 de Setembro de 2010, um dia após a divulgação do 3º pacote de medidas relativas ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, ainda durante o o XVIII Governo Institucional. A iniciativa partiu dos/as participantes no “ensaio sobre o desemprego”, uma oficina de teatro forum/teatro do oprimido dirigida essencialmente a desempregados/as, mas também a trabalhadores/as precários/as. Pretendíamos realizar uma acção que ajudasse a dar visibilidade à burocracia que enfrentam as pessoas desempregadas, o pesadelo que é enfrentar uma máquina burocrática que nos olha com desconfiança. Estava então a acabar o prazo para a entrega da prova de “condição de recursos” pelos beneficiários de prestações sociais. O PEC3 veio, entre outras medidas, anunciar aumento de impostos, um indicador de que sobreviver se tornaria mais caro e mais difícil. Depois disso muita coisa já aconteceu: do acordo da Troika à consagração de um governo que entusiasta na sua aplicação, resta-nos a urgência da resistência à maior rapinagem de direitos feita em Portugal desde o 25 de Abril.

Há um comentário que se ouve nesse vídeo e que me parece crucial: Estamos num país livre ou não estamos? Porque afinal, é a defesa da democracia e das condições materiais para concretizá-la - a liberdade de expressão, de organização (incluindo a sindical e a política), enfim a capacidade de tomarmos decisões colectivas quanto ao nosso futuro, no respeito pelos direitos e liberdades de cada um/a de nós, no reconhecimento de que não há democracia que resista a um aumento brutal da desigualdades -, o maior desafio que hoje enfrentamos. Responder a um desafio destes não é já para amanhã, não estou a ver como possa ser. Mas será para um dia destes, sob pena de ser feita tábua rasa em relação ao pouco que resta dos avanços civilizacionais conquistados no último século. Nessa altura será bem mais difícil pois teremos de começar da estaca zero.

Não substimemos a importância e a dificuldade desse desafio. Implica a superação da cultura, da retórica e da prática individualista que constituiu o mote instituído ao longo das últimas décadas. Implica a reaprendizagem da acção colectiva com base na diversidade de experiências de cada um/a, sem manual de instruções, ou apesar da sua multiplicação. Implica a superação do medo da política, ou do desgaste que a política (e o sistema político, e os partidos) tem sofrido - alguém me confessava, com sinceridade, “não gosto da política, a política é suja”, como se tratasse de uma actividade humana imunda na sua essência - e a sua reapropriação.

Implica ainda a mobilização e reinvenção das nossas capacidades, das nossas forças. Quando relembro o referido vídeo, pergunto-me: o que foi entretanto feito da vida destas pessoas? Como têm sobrevido face autentica rapinagem de direitos e de dignidade a que se assistiu nos ultimos anos? Com estarão as centenas de milhar que entretanto ficaram desempregadas? E as que entretanto ficaram sem qualquer protecção social? Os milhões de pessoas que vêem a sua vida mais e mais precária? Como fazem para ir além da sobrevivência, para exercerem os seus direitos de cidadadania, para participarem nas grandes decisões colectivas que se colocam hoje quanto ao nosso futuro?

No sábado, assisti a uma grande manifestação de descontentamento e ficou a promessa de muito mais. Deu-me alento também para outras lides. É que diz que Outubro é mês de lutas mil.

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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Petição de Solidariedade com a Noruega

Um grupo de organizações portuguesas, lançou hoje uma petição on-line em solidariedade com as vítimas dos atentados na Noruega. É uma nota de condolências e uma declaração política ao mesmo tempo. Será dada a conhecer a vários movimentos sociais noruegueses nos próximos dias. Agradecemos toda a divulgação possível!

TEXTO:

Acompanhámos, num misto de choque, fúria e profunda tristeza, o horror que aconteceu em Oslo e Utoya no dia 22 de Julho. Antes de mais, pensamos, obviamente, nas vítimas, famílias, amigos e camaradas. Aceitem as nossas mais sentidas condolências e solidariedade.

Enquanto activistas de diferentes movimentos sociais e políticos portugueses, estendemos as nossas condolências à Liga dos Jovens Trabalhistas e também ao povo norueguês. E ainda a todos aqueles que, como nós, na Europa e no resto do mundo, compreendem a ameaça representada por ideologias racistas, xenófobas e fascistas, sobretudo quando encontram eco nos discursos e crenças políticas que nos entram pelas casas dentro todos os dias.

Quando se vota no ódio e na exclusão, quando líderes políticos põem em causa os valores do multiculturalismo, quando as minorias são transformadas em bodes expiatórios para os erros de sistemas políticos que promovem a exclusão e a discriminação, o ódio passa a ser aceite na política. E as armas precisarão sempre do ódio como munição.

Podia ter sido qualquer um de nós. Por isso, a maior homenagem que podemos prestar a todos os que morreram, ficaram feridos ou perderam entes queridos é o nosso compromisso com a luta pelo respeito, diversidade, justiça e paz e por uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva. Responderemos com mais democracia.
______

We followed, in shock, anger and deep sadness the horrendous events in Oslo and Utoya on the 22nd of July. Our first thoughts are towards the victims, their family, friends and comrades. Please accept out heartfelt condolences and solidarity.

As activists from different social and political movements in Portugal, we extend our condolences to the AUF, but also to the people of Norway. And towards all of us in Europe and the rest of the world who understand and aknowledge the threat posed by racist, xenophobic, fascist ideologies, too frequently endorsed by mainstream political discourses and beliefs everywhere.

When people vote for hate and exclusion, when political leaders question multicultural values, when minorities are chosen as scapegoats for the failures of political systems aimed at exclusion and discrimination, hate has been accepted into mainstream politics. And guns will always need hate as ammunition.

It could have been any of us, political activists whose biggest tribute to those who perished, sustained injuries or have lost loved ones is our pledge to keep on struggling for respect, diversity, justice, peace and a truly democratic and inclusive society. We will answer with more democracy.

Artigo 21.º :: Associação 25 de Abril :: Associação Abril :: Associação República e Laicidade :: ATTAC Portugal :: Bloco de Esquerda :: Convergência e Alternativa :: Crioulidades - Arte e Cultura na Diáspora :: FERVE :: M12M :: Movimento Escola Pública :: Não Apaguem a Memória :: Opus Gay :: Panteras Rosa :: PES Portugal :: Portugal Uncut :: Precários Inflexíveis :: Rainbow Rose Portugal :: Renovação Comunista :: SPGL :: UMAR :: Vidas Alternativas

Assina a petição aqui

terça-feira, 19 de julho de 2011

passa palavra

Tele Debout é um site que alberga videos feministas com objectivos pedagógicos.
Genre en Action é um portal de informação e recursos sobre género e desenvolvimento.

Descobri-os em conversa com algumas das muitas mulheres com quem foi possível conhecer e partilhar experiências no Acampamento de Jovens Feministas em Toulouse.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Para realistas e aluados

O Editorial do Monde Diplomatique deste mês explica como a troika obriga-(n)os a escolher entre a purga liberal e a falência. Será que tem de ser assim? A resposta é sugestiva: «Não tenha vergonha de querer a Lua: precisamos dela»

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Os últimos minutos na cabeça de mr. coelho antes de anunciar o corte no natal

(esta que vos fala teve acesso privilegiado à cabeça do sr. primeiro e levou gravador. segue a transcrição. peço perdão pela linguagem sexista e pelo pensamento confuso, mas uma transcrição é uma transcrição e a cabeça do senhor é mesmo assim)


podia fazer disto uma campanha publicitária: "50% do natal foi à vida, esqueçam as compras, comprem a (dí)vida. O PSD na luta contra o consumismo!" hmmmm... nops, muito à esquerda... e volta a ensaiar no espelho, lembra-se do seu companheiro anterior "assim fica melhor ou fica melhor assim?". não quero usar a cena da pesada herança, tinha dito que não ia - carai a rico não devas, a pobre não prometas... não interessa. então assim: "portugueses: sabem que eu gosto de falar simples: já não há prata na casa, o guterres vendeu as jóias da avozinha - que deus a tenha! - o cavaco empenhou os lenços de seda da tia em betão, e muito bem aliás, o durão só vendeu mesmo os botões de punho, mas teve de ser - nas guerras é que se vê o futuro dos grandes homens e as idas para cargos europeus são caríssimas - e o sócrates vendeu tudo o que não era possível privatizar e privatizou tudo o que valia a pena vender. não ficou quase nada. quase nada. o que falta privatizarei eu, mas baratinho que é para não assustar os mercados. estamos de pantanas e eu só agora percebi. nada mais há a fazer e tanto isto me custa, queridos cidadãos, mas é melhor assim para não ser pior. imaginem que era o salário inteiro? imaginem a grécia? imaginem o que eu ia dizer à nossa querida merkel? (tão bem as fotografias, tão bem, o meu à vontade... ai!!!!... nasci para isto). imaginem que vos pedia para começarem a pagar para respirar? para irem trabalhar de graça como os pobres e os desempregados? estão a ver? podia ser muito pior. pode ser sempre pior. é importante aceitarmos isso, é uma lei da vida."

e se me perguntarem por aquelas ideias doidivanas da esquerda? impostos sobre as grandes fortunas, auditoria e reestruturação da dívida, investir no sector produtivo... credo! mas onde é que esta gente vive... já não há sector produtivo à séculos, toda a gente sabe que o vendemos à UE ... e vê-se mesmo que não foram à reunião com o FMI, senão tinham já visto bem como é que era. a culpa é deles aliás, toda a gente sabe, naquela altura que estiveram no governo com o soares... peraí... eles nunca chegaram a ser governo, pois não? não interessa. a culpa é deles na mesma. deles e da crise internacional. anarcas! - são todos anarcas não são?... um dia destes tenho de fazer um curso rápido de correntes da esquerda a ver se amando uma frasezinha inteligente na assembleia ao irritante do louçã com aquele ar académico - avante! (cruz credo!) adiante!

estou pronto. frase final: metade do natal. e será que precisamos mesmo do natal inteiro? é fácil, como diz o saraiva, e muito bem aliás, em vez do bacalhau, comam só perú. onde é que está o parágrafo do acordo com o FMI onde isso está escrito????... não encontro... deixa ver... perú.... não encontro... não faz mal. não posso é esquecer-me de avisar os bancos que o empréstimo de 15 mil milhões tá garantido e de dizer à laura que este ano faça bacalhau com natas que eu odeio o bacalhau com grão. o perú pode fazer igual.

(e foi isto. sorry. nada mais)

PS: Isto é verdade, não é brincadeirinha do 1º de Abril, que eu sou pessoa séria. 

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Há dias vi no facebook de uma pessoa, que estava em Marrocos, o seguinte: "Hoje vamos fazer o melhor da nossa viagem, distribuir comida pelos pobres". Deu-me assim um nó...

"Se a mim me mandassem dispor por ordem de precedência a caridade, a justiça e a bondade, daria o primeiro lugar à bondade, o segundo à justiça e o terceiro à caridade. Porque a bondade, por si só, já dispensa a justiça e a caridade, porque a justiça justa já contém em si caridade suficiente. A caridade é o que resta quando não há bondade nem justiça."

José Saramago

Penso, logo resisto.

quarta-feira, 22 de junho de 2011


não há um mundo das mulheres,

mas sim um mundo que também é das mulheres,

que ainda morrem por ser.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entonces somos putas!

Llaman “puta” para etiquetar y descalificar a las mujeres que tenemos la valentía para decidir sobre nuestros cuerpos y nuestras vidas. Nos dicen “puta” por no ser sumisas, puta por feministas, puta por ser independientes, puta por disfrutar nuestra sexualidad, puta por estar en la disco bailando y disfrutando, puta por vestirnos como queremos… Si eso es ser puta, ¡entonces somos putas!
(encontrei no mural da amiga pili e assino por baixo)

a mentira da suposta verdade


Assim se manipulam os meios de comunicação... divulguem!

sábado, 18 de junho de 2011

Este mundo não presta, venha outro.

Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
...E de lamber as mãos, se dependentes.

José Saramago

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um ano na prisão por um poema

Ayat Al Qurmazi, uma estudante universitária de 20 anos, foi condenada a um ano de prisão, no Bahrain. O seu crime foi recitar em público o seguinte poema, aqui em inglês.
Recorde-se que o Bahrain foi recentemente palco de manifestações pacíficas, reprimidas pelos soldados do rei Hamad bin Isa Al Khalifa. O país foi "pacificado" nas últimas semanas, até porque se aproxima a data do Grande Prémio da Fórmula 1 a ser disputado no país. No entanto, a repressão parece não estar a correr bem para Khalifa, já que a corrida foi cancelada de novo a 10 de Junho. A maioria (70%) shiita do Bahrain disputa o poder com o govarno sunita e reclama maior liberdade de expressão e mais direitos sociais e políticos. A oposição quer que o parlamento tenha mais poder do que o rei, que já prometeu reformas, mas nunca as efectuou.
Ayat, entretanto, queixa-se de ter sido maltratada na prisão. A Amnistia Internacional considera o caso um atropelo aos direitos humanos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

E a China?

Os indignados em barcelona e os manifestantes que cercam o parlamento grego queixam-se da falta de circulação das notícias sobre os seus protestos. É verdade que não é o tema mais versado, mas ainda menos atenção foi dada ao que está a acontecer na China. Milhares de pessoas estão nas ruas há quatro dias, tendo inclusivamente tomado um edifício governamental. Foram reprimidas com gás lacrimogéneo pela polícia. Mais informação nestes links:
The Guardian
El País
Le Monde

quinta-feira, 9 de junho de 2011

CARTA ABERTA A POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Robson Simas – Cel BM RRem
CARTA ABERTA A POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
Povo Fluminense,
Os Bombeiros do Rio de Janeiro, profissionais trabalhadores, ordeiros e competentes, em respeito à população que sempre defenderam, por vezes com o sacrifício da própria vida, vem a público esclarecer o que tem ocorrido na Corporação e no Governo do Estado e o que levou companheiros e seus familiares a desafiarem os desmandos do Comandante Geral Cel Pedro Marco e do Governador Sérgio Cabral.
Como sabemos, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro é uma corporação voltada para a preservação de vidas e proteção de Bens da população do Estado do Rio de Janeiro.
Ao longo da sua existência, o CBMERJ sempre se pautou pela hierarquia e disciplina e também pela credibilidade de seus serviços, estando ao lado da população Fluminense em todas as suas aflições e enfrentando com bravura as calamidades naturais que atingem o Estado. São inúmeras as vidas salvas e os bens preservados pelos profissionais do Corpo de Bombeiros, que a população chama carinhosamente de Heróis. Ao nos formarmos, juramos defender a população com o Sacrifício da nossa própria vida e assim temos feito ao longo desses 155 anos de existência.
A Corporação recolhe cadáveres, combate os mosquitos da dengue, atua nas UPAS, guarnece o sambódromo no carnaval e atua no Rock in Rio (sem remuneração extra, embora o evento seja cobrado ao público), além de exercer as suas funções de salvamentos e combate à incêndio, recebendo um dos PIORES SALÁRIOS pagos pela categoria no Brasil (tabela ao Final).
O reequipamento da Corporação não é mérito do Governador, mas sim da população do Estado do Rio de Janeiro que paga a taxa de incêndio e que, ainda assim, não sabe que os recursos não são totalmente destinados à Corporação.
A Ira do Sr. Sérgio Cabral, com os Bombeiros, vem de 2009, quando foi vaiado pela Corporação durante o lançamento da Campanha “Cultura Antidengue” no ginásio do Maracanãzinho e desde então tem discriminado os Bombeiros militares, sejam nas gratificações (usando seu poder de discricionariedade) seja nas condições de trabalho (vocês viram alguma homenagem aos heróis que morreram na calamidade da Região Serrana?)
Agora, a população do Estado do Rio de Janeiro, assiste a sua Corporação de heróis ser aviltada e achincalhada pelas atitudes ditatoriais do Governador Sérgio Cabral que culminou com os manifestantes adentrando o Quartel Central da Corporação, no ultimo dia 03, para serem ouvidos pelo seu Comandante Geral, que omisso, serviu de “pau mandado” do governador Sérgio Cabral e ignorou os clamores de sua Tropa, nem comparecendo ao local.
O Governador Sérgio Cabral, adotando os melhores recursos da DITADURA, mandou o BOPE invadir com tiros e bombas o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, ferindo militares honestos, mulheres e crianças indefesas. Atitude inadmissível em um Estado democrático de Direito!
Porque o Comandante Geral do CBMERJ, Cel Pedro Marco, não tomou as medidas necessárias para a retirada de seus militares do pátio do Quartel Central? Estavam todos desarmados e com seus familiares. Não era necessário o uso da força e sim do diálogo. Os Bombeiros são pacíficos por natureza.
O Governador nunca gostou da Corporação. Nomeou para Secretário o Ex médico do CBMERJ Sérgio Côrtes, um homem que deixou a Corporação por não concordar com os baixos salários e a carga de trabalho excessiva e agora nada faz para ajudar a Corporação, apenas integra os desmandos administrativos e superfaturados do Governo do Estado na área da saúde.
Assistimos perplexos ao Comandante Geral da PMERJ usurpar o Comando do CBMERJ e se dirigir, dentro do quartel dos Bombeiros, à tropa de profissionais honestos como se bandidos fossem.
Nossos militares foram presos e conduzidos aos quartéis da PMERJ como criminosos apenas por reivindicar dignidade profissional!
Se nossos companheiros erraram ao ADENTRAR a SUA SEGUNDA MORADA, o Governador foi CRIMINOSO e DITATORIAL ao ordenar a invasão do Quartel Central dos Bombeiros pelo BOPE com uso de FORÇA, TIROS E BOMBAS, como se ali fosse uma antro de criminosos e não de profissionais que arriscam a sua vida pela população, CAUSANDO FERIMENTO EM MULHERES E CRIANÇAS e obrigando a nossos companheiros ao confronto.

AJUDEM AQUELES QUE SEMPRE O SOCORRERAM!!!
NUNCA DEIXAMOS DE ATENDER E SOCORRER A POPULAÇÃO!
MOSTRE A SUA INDIGNAÇÃO POR ESSE ATO VIOLENTO E DITATORIAL DO GOVERNADOR SERGIO CABRAL!!!
MOSTRE O SEU APOIO AOS BOMBEIROS!
ENVIEM ESSA CARTA PARA TODOS OS SEUS AMIGOS.
ACOMPANHEM E APOIEM O NOSSO MOVIMENTO PELO SITE http://www.sosguardavidas.com/
SALÁRIOS BRUTOS NO BRASIL:

01º - Brasília - R$ 4.129.73
02º - Sergipe – R$ 3.012.00
03º - Goiás – R$ 2.722.00
04º - Mato Grosso do Sul – R$ 2.176.00
05º – São Paulo – R$ 2.170.00
06º – Paraná – R$ 2.128,00 1
07º - Amapá – R$ 2.070.00
08º – Minas Gerais - R$ 2.041.00
09º - Maranhão– R$ 2.037.39
10º – Bahia – inicial - R$ 1.927.00
11º - Alagoas - R$ 1.818.56
12º - Rio Grande do Norte – R$ 1.815.00
13º - Espírito Santo – R$ 1.801.14
14º - Mato Grosso – R$ 1.779.00
15º - Santa Catarina – R$ 1.600.00
16º - Tocantins – R$ 1.572.00
17º - Amazonas – R$ 1.546.00
18º - Ceará – R$ 1.529,00
19º - Roraima – R$ 1.526.91
20º - Piauí – R$ 1.372.00
21º - Pernambuco – R$ 1.331.00
22º - Acre – R$ 1.299.81
23º - Paraíba – R$ 1.297.88
24º - Rondônia – R$ 1.251.00
25º - Pará – R$ 1.215,00
26º - Rio Grande do Sul – R$ 1.172.00
27º - Rio de Janeiro - R$ 1.031,38 (SEM VALE TRANSPORTE)

O RIO DE JANEIRO é o Estado que mais recebe investimentos no Brasil, é o 2º que mais arrecada impostos.
Pretende Sediar o Rock in Rio, as Olimpíadas militares, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.
Há algo de errado e Podre no Governo do Exmo Sr Governador Sérgio Cabral Filho!!!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Os homens também choram


Imagem de um bombeiro grevista durante o protesto pela libertação dos 439 colegas que foram presos.
Não mata mas mói.

Crise: perigo ou oportunidade?

Acordei hoje para o mundo depois de 4 dias a dar uma oficina de Curingagem em Teatro d@ Oprimid@ com a minha irmã.
Ontem, pela segunda vez fui curinga.
Ontem pela segunda vez votei.

Chego aqui, à informação destes dias de ausência, e descubro que sábado a polícia usou e abusou do seu poder através da violência contra quem simplesmente exercia o seu direito de liberdade de expressão.
Chego aqui, aos meios que me comunicam a (sua) última hora do meu país, e verifico que a partir de agora seremos governados por dois partidos de direita, conservadores, neoliberais ou filhos de um grande cabrão (que já basta das putas terem culpa disto).
E sinto que não consigo mesmo estar feliz com o mal menor do Sócrates já não ser primeiro-ministro, mas apenas uma continuidade da minha raiva triste em relação àqueles a quem entregamos o nosso país.

Na Grécia vejo um buraco negro criado pela crise que se acentuou depois da TroiKa ter atracado faminta de dinheiro, e vejo pessoas grandes a bloquearem as ruas aos milhares em luta pela dignidade das suas vidas. E grito feliz.

Quando se constrói uma peça de teatro d@ Oprimid@, o problema-opressão que é apresentado deve acabar numa crise, em que @ protagonista perde e não resolve o seu problema. O problema depois é devolvido ao colectivo para o ensaiar transformar e resolver. A este final Boal dá o nome de "crise chinesa", porque na cultura chinesa uma crise é representada por dois ideogramas, um significa perigo, o outro oportunidade.

Quando olho para a Grécia lembro-me da "crise chinesa" do Teatro d@ Oprimid@, pois acredito também que, como diz Boal, somos tod@s espectactores e espectactrizes porque temos a oportunidade simultânea de observar e agir sobre a realidade.
E quero muito que o Portugal de agora não se esqueça que se não virmos a situação de crise actual como um perigo sério e uma oportunidade urgente de pôrmos fim a isto, o dia de amanhã será de um negro de fome e sangue e as ruas deixarão mesmo de ser nossas.

domingo, 5 de junho de 2011

Há ir e votar, há vir e lutar

Vamos de "férias"!

Ou um país fechado para obras

Qualquer resultado eleitoral de hoje seria uma merda, porque este país pequenino e bebé na democracia não sabe ainda dar luz a quem de facto não tem sequer voz. Hoje, como há um ano atrás, eu continuo a defender que nós, cidadãos e cidadãs insatisfeitas com este país deveríamos ter férias! E obrigar o país a fechar para obras e reflexão. Imagine-se: um Portugal deserto de pessoas, ninguém, ninguém... Todas as pessoas a viajar para reflectir, para meditar, para tomar decisões, para aprender a olhar, a ser e a fazer.
Depois, devagarinho, poderíamos ir regressando...
Era assim que eu gostava que fosse a partir de amanhã este país.

sábado, 4 de junho de 2011

No Rossio, todos os sábados, exerce-se um direito fundamental: o de reunião

Relembre-se o nº 1 do Art.º 45º da Constituição da República Portuguesa:

"Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização."

Será que alguém ainda terá dúvidas sobre o que aconteceu hoje no Rossio?

Quem lá esteve não teve qualquer dúvida, por isso não deixou de decidir:
  1. todos os sábados, na Praça do Rossio, promover Assembleias Populares [às 17h reunem os grupos de trabalho, às 19h são as Assembleias]
  2. todas as quintas, realizar Assembleias Populares descentralizadas em bairros [de microfone aberto].
Mesmo perante a mordaça musculada, recusamos aceitar o roubo de horizontes para o nosso futuro.

Também publicado em Portugal Uncut

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Grécia Está nas Ruas, Sabiam?

Sabes o que se está a passar em Atenas neste momento? Envia uma mensagem as meios de comunicação social portugueses a exigir que nos informem sobre o assunto. Podes usar este texto e os endereços no fim. Quebra o bloqueio. Passa a palavra.

[Apelo lançado em Portugal Uncut.]

Depois de terem ignorado os dias iniciais dos protestos em Espanha, e de terem feito uma cobertura tardia e limitada das repercussões em Portugal, os media portugueses insistem em fechar os olhos, ou em tentar fechar-nos os olhos, em relação a outro palco de contestação em curso: a Grécia.

São pelo menos cem mil nas ruas em Atenas há vários dias, a protestar contra as medidas de austeridade, a intervenção do FMI, a complacência do governo, a vida que não podem viver.

Nisto, os media portugueses não estão sozinhos: o bloqueio é geral. Percebe-se que o efeito claro das políticas de austeridade impostas pelo FMI desde há um ano não seja uma visão agradável que para quem tenta implementar o mesmo plano sanguessuga por outras paragens; e menos será a consciência de que as pessoas não estão rendidas ao que lhes vendem como inevitável, e que um ano de austeridade e ameaças as faz sair para a rua em massa. Mas não será precisamente porque a Grécia é um exemplo tão próximo e claro que o jornalismo digno desse nome devia fazer questão de pelo menos noticiar? já nem falamos de isenção, debate, investigação - apenas da obrigação básica de informar. Mais ainda num país em campanha eleitoral para umas eleições que se disputam em torno das questões da austeridade e das imposições da mesma troika responsável pela situação grega.

Existem alguns artigos on-line|1|, transmissões em directo|2|, e até a hashtag #greekrevolution no Twitter. Se os media não cumprem o seu papel, há quem o faça. Mas acreditamos que o contributo da comunicação social para o debate e a informação dos cidadãos é insubstituível, e que jornalistas sérios não prescindem das suas obrigações éticas. Por isso, aqui fica o apelo: façam o vosso trabalho, e informem-nos acerca do que se está a passar na Grécia.

|1| Artigos

|2| Live Streaming e vídeos:
Atenas 25/05/11

alguns emais (envia para outros que tenhas!):
tsf@tsf.pt
agenda.informacao@rtp.pt
politica.expresso.pt
politica@lusa.pt
politica@publico.pt
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terça-feira, 31 de maio de 2011

Há coisas que foram conquistadas. Uma delas foi o voto.

Muito tenho ouvido e visto sobre o significado do voto. A que mais me impressionou, confesso, refere-se a uma foto partilhada pela minha companheira blogueira, a Ana Perovskaia, e que diz: "se votar servisse para mudar, estaria proibido."

É que já foi proibido. Já foi proibido para a gente comum. Já foi proibido para os escravos, para as escravas, para quem não pagava impostos, para as mulheres...

No passado sábado fez cem anos que uma mulher votou, só uma. Votou desafiando todas as convenções sociais, desafiando uma sociedade patriarcal que entendia que a mulher não tinha capacidade de opinar, de decidir. Essa mulher entendeu que o voto - mesmo num sistema político bem mais asfixiante do que o nosso - servia para mudar alguma coisa. E ainda bem que o fez.

Dou todo o valor, e mais algum, à expressão política da rua. Mas não faz sentido ficar à espera que nos venham roubar o direito ao voto para lhe dar o devido valor. E não nos iludemos: é o que está a ser feito quando se tenta reduzir as eleições à ratificação de um programa de governo cozinhado no guarda-chuva da troika. Quando se tenta esvaziar a política pelo jogo rasteiro do "internacionalismo monetário".

Há direitos relativamente aos quais não estou disposta a abrir mão. Um deles é o direito ao voto.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

democracia, quero-te tanto

(como um abraço às gentes de barcelona)

gosto-te democracia, e acho-te tão presente
para fazer frente a tudo o que é ainda ausente de ti.

os baixos salários, a cara saúde, a educação roubada a tantas,
a dívida que impuseram à minha filha de 12 anos,
(brutalmente)
não te consultaram, consultaram o FMI.
(Formadores de Miséria Internacional, caso não saibas o que quer dizer)

o FMI, democracia, é um bando de gente
repelente. vivem à custa da gente,
tão somente.
e contam para isso com o apoio de muita gente clarividente:
governos, corporações económicas, bancos europeus e outros tantos filisteus.
gente que não é como a gente.
ganha melhor, mente mais e melhor,
vai mais vezes à televisão ou tem ar de patrão.
quando não nos enganam com a palavra,
o marketing, a publicidade,
os juros que nos tiram o sono,
as promessas de uma vida melhor daqui a dez mil anos, 
têm na polícia a sua arma encapotada,
e com cada mão num bastão, atiram-te ao chão.

votar, sendo fundamental, não te basta, eu sei.

temos de nos fazer à rua, felizmente.
ainda bem que tu, democracia,
belíssima e sempre inacabada
(genialmente imperfeita, atrevida, delicada)
nasceste sempre por ali,
num canto,
numa esquina, na curva de uma praça,
à sombra de uma azinheira,
entre gente que, como a gente,
quando não lhes deixam sonhar
quando lhes roubam gritar
quando não lhes deixam descansar,
ou te julgam ausente,
de uma maneira ou de outra
vai estar
e já está, presente.

(também publicado em Portugal uncut)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Acampada ao Sol, Madrid

(Vou me repetir)
Encontrei pessoas que fizeram crescer um protesto com base em assembleias populares constantes e isso é um reflexo da verdadeira democracia (é positivo), que deram um exemplo de um forte poder organizativo, colectivo e pela comunidade, mas que me disseram mais do mesmo. Não deixa de ser conformista, exigir menos do que se devia. Ou exigir à medida do nosso umbigo.
As ruas são nossas, vamos tomá-las. E vamos garantir que a nossa voz é ouvida, porque o que nos preocupa e "os nossos sonhos, não cabem nas suas urnas". E como diziam no Sol, "se não nos deixam sonhar, não vos deixaremos dormir".

Nota: Na quinta imagem pode ler-se parte de "se votar servisse para mudar, estaria proibido"; na segunda imagem está ilustrada uma das assembleias de dia 22 (ainda não tinha começado e ainda se juntaram mais pessoas); a polícia não é nossa amiga.












domingo, 22 de maio de 2011

1º Manifesto do Rossio

Os manifestantes, reunidos na Praça do Rossio, conscientes de que esta é uma acção em marcha e de resistência, acordaram declarar o seguinte:

Nós, cidadãos e cidadãs, mulheres e homens, trabalhadores, trabalhadoras, migrantes, estudantes, pessoas desempregadas, reformadas, unidas pela indignação perante a situação política e social sufocante que nos recusamos a aceitar como inevitável, ocupámos as nossas ruas. Juntamo-nos assim àqueles que pelo mundo fora lutam hoje pelos seus direitos frente à opressão constante do sistema económico-financeiro vigente.

De Reiquiavique ao Cairo, de Wisconsin a Madrid, uma onda popular varre o mundo. Sobre ela, o silêncio e a desinformação da comunicação social, que não questiona as injustiças permanentes em todos os países, mas apenas proclama serem inevitáveis a austeridade, o fim dos direitos, o funeral da democracia.

A democracia real não existirá enquanto o mundo for gerido por uma ditadura financeira. O resgate assinado nas nossas costas com o FMI e UE sequestrou a democracia e as nossas vidas. Nos países em que intervém por todo o mundo, o FMI leva a quedas brutais da esperança média de vida. O FMI mata! Só podemos rejeitá-lo. Rejeitamos que nos cortem salários, pensões e apoios, enquanto os culpados desta crise são poupados e recapitalizados. Porque é que temos de escolher viver entre desemprego e precariedade? Porque é que nos querem tirar os serviços públicos, roubando-nos, através de privatizações, aquilo que pagámos a vida toda? Respondemos que não. Defendemos a retirada do plano da troika. A exemplo de outros países pelo mundo fora, como a Islândia, não aceitaremos hipotecar o presente e o futuro por uma dívida que não é nossa.

Recusamos aceitar o roubo de horizontes para o nosso futuro. Pretendemos assumir o controlo das nossas vidas e intervir efectivamente em todos os processos da vida política, social e económica. Estamos a fazê-lo, hoje, nas assembleias populares reunidas. Apelamos a todas as pessoas que se juntem, nas ruas, nas praças, em cada esquina, sob a sombra de cada estátua, para que, unidas e unidos, possamos mudar de vez as regras viciadas deste jogo.

Isto é só o início. As ruas são nossas.

Eu quero...

Diz-me como avalias, dir-te-ei quem serves


Agências de rating: Pare um minuto para pensar

Por M12M

As agências de rating, também conhecidas como agências de notação financeira, foram criadas há mais de um século, nos Estados Unidos da América, com o objectivo de avaliar a capacidade das empresas e dos Estados em pagar as suas dívidas, num prazo acordado. As avaliações determinam o valor dos juros cobrados por quem empresta dinheiro.

Quanto mais elevado for o rating menor é o juro,... e vice-versa. A classificação é feita por letras, sendo AAA a melhor avaliação possível. A partir de BB considera-se que há muitas incertezas sobre a capacidade dos avaliados em pagar o que devem e os juros pedidos são considerados especulativos.

As notações são realizadas por técnicos das agências, baseadas em diversos indicadores de desempenho económico, segundo critérios pouco claros. Por todo o mundo, as agências de rating são pagas pelos Estados - como Portugal - e por empresas privadas - como bancos e grandes companhias portuguesas - para que avaliem a sua capacidade de endividamento.

As três principais agências de rating do mundo, todas americanas, – Moodys, Fitch e Standards & Poor’s - dominam 95% do mercado das avaliações, criando assim um monopólio de opinião. Estas agências são, juntamente com o sector bancário e segurador, responsáveis por diversas crises e falências, devido às avaliações incorrectas que fizeram.

Os erros de avaliação destas instituições provocaram a queda de grandes corporações que se tornaram grandes demais para falir. Mas faliram.

Em 2001 aconteceu com a americana Enron Corporation – uma das maiores companhias energéticas do mundo – que tinha sido avaliada com ratings elevado por parte de todas as agências quase até ao dia da sua bancarrota.

Em 2008, o quarto maior banco de investimento do mundo, Lehman Brothers, ruiu dando origem à crise do subprime, quase até ao dia da sua falência esteve avaliado acima de BB, que significa “boa qualidade”. As hipotecas das casas de milhares de americanos foram transformadas em produtos financeiros complexos, hoje chamados activos tóxicos, vendidos e revendidos em mercados secundários sem regulação. Estes produtos financeiros foram sempre avaliados pelas agências de rating com a nota máxima - AAA.

Poucas semanas antes, e por causa dos mesmos activos tóxicos, os três principais bancos privados islandeses faliram. Tinham avaliações de A até poucos dias antes do colapso. O sistema financeiro da Islândia valia dez vezes mais que o PIB do país. O Estado teve que nacionalizar os prejuízos dessa bolha especulativa e a economia afundou.

A responsabilidade das agências de rating, no entanto, não foi punida, apesar de já vários países terem iniciado queixas-crime contra elas, inclusive em Portugal.

Vivemos numa era em que as decisões económicas são feitas à escala global e estas agências passaram a desempenhar um papel fundamental no funcionamento da economia, do sector financeiro e bancário. Conquistaram a capacidade de influenciar a estabilidade de Estados e empresas, que têm necessidade de crédito.

Em teoria, o seu propósito de garantir um saudável funcionamento dos mercados é negado pelas suas práticas. Há um conflito de interesses quando os detentores das agências de rating são pagos por bancos de investimento para avaliar produtos que esses mesmos bancos de investimento vendem – como os activos tóxicos. Isso significa que manipulam quem deveriam proteger – os clientes de produtos bancários.

Não assistimos apenas à crise do sistema, mas sim ao natural desenrolar do sistema da crise. A ganância de quem detém o poder na economia faz com que a factura seja apresentada aos que menos culpa e voz têm – as pessoas comuns. São elas as vítimas das políticas de austeridade ditas inevitáveis, que servem para pagar os juros cada vez mais altos exigidos por quem empresta dinheiro aos países e para salvar as irresponsabilidades cometidas pela banca.

As agências de rating deixaram de estar ao serviço da economia passando a economia a estar ao serviço das agências. É fundamental questionar a legitimidade e imparcialidade das suas avaliações, a legitimidade do seu monopólio, a legitimidade democrática que não têm quando influenciam a economia e consequentemente todos os planos políticos e sociais.

As agências de rating classificaram-nos 'abaixo de lixo'. Sem nada que o justificasse, 'lixaram-nos', obrigando Portugal a seguir um caminho que ninguém escolheu como única solução para a saída da crise. No entanto, não nos dizem porque chegámos a este estado, não nos dizem qual é o real estado a que chegámos, não nos ouvem nem aceitam quando apresentamos alternativas.

Num momento em que o país vê a sua economia e políticas definidas por entidades estrangeiras, não podemos esquecer os responsáveis por esta crise. Não podemos esquecer que foi a especulação causada pelas agências de rating que nos trouxe até aqui. E não podemos deixar de exigir que sejam punidas. Mas também não devemos esquecer como chegámos a esta situação de endividamento, de que as agências se aproveitaram.

Agora que o país se encontra sem rumo é tempo de arrumar a casa. É tempo de saber como se chegou até aqui. É tempo de saber o que devemos, a quem, porquê e como chegámos a este ponto. É por isso que exigimos uma auditoria externa às contas públicas já!

Exigimos transparência, porque em Democracia temos o direito de saber como são usados os impostos que pagamos. É porque ninguém nos explica de onde vem esta dívida e como foi contraída que exigimos uma auditoria às contas públicas.

Em Democracia governa-se para o Povo, com um mandato dado pelo Povo, para a gestão da dos interesses públicos que o Povo paga com os seus impostos. Chegou a altura de o Povo saber o que andaram a fazer com o seu dinheiro ao longo de todos estes anos. Chegou a altura de perceber o que tem de pagar e até quando.

Porque a transparência na gestão dos dinheiros públicos é a base de uma sociedade justa, exigimos uma auditoria independente à nossa dívida já.

ISTO É DEMOCRACIA, QUEREMOS UMA AUDITORIA!

As coisas descabidas que andam a dizer no Rossio


ou ainda:


quinta-feira, 19 de maio de 2011

porque poderemos ser algo mas que la generation botellon.

Fotos boas da revolução que vai em Madrid...

porque nos habéis quitado demasiado e ahora lo queremos todo.

Ojalá podamos merecer que nos llamen locos

Querido Stig:

Ojalá seamos dignos de tu desesperada esperanza.

Ojalá podamos tener el coraje de estar solos y la valentía de arriesgarnos a estar juntos, porque de nada sirve un diente fuera de la boca, ni un dedo fuera de la mano.

Ojalá podamos ser desobedientes, cada vez que recibimos órdenes que humillan nuestra conciencia o violan nuestro sentido común.

Ojalá podamos merecer que nos llamen locos, como han sido llamadas locas las Madres de Plaza de Mayo, por cometer la locura de negarnos a olvidar en los tiempos de la amnesia obligatoria.

Ojalá podamos ser tan porfiados para seguir creyendo, contra toda evidencia, que la condición humana vale la pena, porque hemos sido mal hechos, pero no estamos terminados.

Ojalá podamos ser capaces de seguir caminando los caminos del viento, a pesar de las caídas y las traiciones y las derrotas, porque la historia continúa, más allá de nosotros, y cuando ella dice adiós, está diciendo: hasta luego.

Ojalá podamos mantener viva la certeza de que es posible ser compatriota y contemporáneo de todo aquel que viva animado por la voluntad de justicia y la voluntad de belleza, nazca donde nazca y viva cuando viva, porque no tienen fronteras los mapas del alma ni del tiempo.



Eduardo Galeano

terça-feira, 17 de maio de 2011

Hoje é dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia



A Marcha Mundial das Mulheres saúda e associa-se às iniciativas assinalando o Dia 17 de Maio - Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia

Rumo a um mundo, a um país em que a justiça, a liberdade, a igualdade, a paz e a solidariedade imperam, a Coordenadora Portuguesa da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), enquanto rede feminista internacional comprometida com a construção de um mundo livre de qualquer forma de opressão, onde cada pessoa possa gozar plenamente dos seus direitos e deveres de cidadania, não podia deixar de assinalar o Dia 17 de Maio – Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia.

A dignidade da pessoa humana e o direito à igualdade e à não discriminação, reconhecidos, nomeadamente, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação e noutros documentos jurídicos internacionais e europeus subscritos pelo Estado Português, têm expressão jurídica na Constituição da República Portuguesa e em vários diplomas do nosso quadro legal. Contudo, a experiência mostra que as leis não são totalmente cumpridas pelo Estado, pelas entidades patronais, pelas instituições e pela sociedade civil.

Existe uma relação muito profunda entre a discriminação de género e a discriminação com base na orientação sexual. As formas mais relevantes do sexismo são o machismo, a misoginia, a homofobia, a lesbofobia, a bifobia e a transfobia. E uma característica comum a todas elas é que são a expressão de formas centradas no domínio masculino patriarcal.
Sexismo, homofobia e transfobia, estão intimamente ligados quando se considera a heterossexualidade como natural, superior e positiva, e a homossexualidade, como inferior, negativa, e anti-natural. As atitudes de hostilidade e violência contra gays, lésbicas, bissexuais e transgéneros são manifestações desta forma de sexismo que, como as demais, legitima, justifica e torna inquestionável a sua prática.

Para desenvolver uma sociedade inclusiva e uma economia mais dinâmica, colhendo os frutos da diversidade, torna-se imperativo eliminar os factores de discriminação, enraizados nas nossas estruturas e práticas, em razão do sexo, do género, da orientação sexual e da identidade de género em todas as áreas em relação às quais o Estado tem responsabilidades.

A nós, enquanto sociedade/colectivo, falta-nos assegurar uma efectiva mudança social e cultural que ponha fim a modelos hegemónicos que oprimem, inviabilizam e silenciam tudo o que é tido como “fora da norma”. Falta-nos denunciar e combater sistematicamente qualquer forma de discriminação. Falta-nos construir outros imaginários. Falta-nos valorizar as diferentes identidades e formas de ser, estar e amar. Falta-nos mais liberdade, mais dignidade, mais igualdade.
A estes desafios, a estes imperativos, a coordenadora portuguesa da Marcha Mundial das Mulheres diz, como sempre disse, presente! E solidariza-se com todas as organizações, os movimentos, as pessoas que diariamente estão empenhados e empenhadas em derrubar muros, em construir alicerces de uma cidadania plena para todos e todas, em construir um outro mundo que é possível.

Há que ocupar.


Porque os média tiram-nos a voz há que ocupar e devolver a voz do povo ao que é do povo por direito. Na Grécia experimentam-se estas coisas malucas...
E a Grécia já paga renda ao FMI.
E nós para quando?

terça-feira, 10 de maio de 2011

nem os ratos conseguem entrar

Em Ponta Delgada (o meu ninho açoreano) taparam com blocos e cimento todas as casas que estão abandonadas. Resultado: estão ainda mais abandonadas. Como diz a minha amiga flor, "Nem os ratos conseguem entrar."

Em Ponta Delgada (o meu ninho açoreano) existem pessoas abandonadas a dormir ao relento das ruas chuvosas. Resultado: estão ainda mais abandonadas. Como digo eu, "As casas são como as pessoas, precisam de gente que as habite."

Mas sei que as paredes, não tarda nada, vão falar assim ou assado.

Nekwni s warrach n lezzayer


Nekwni s warrach n lezzayer por termix

música revolucionária de um país longínquo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Ouvi dizer que o FMI era o salvador da pátria e d@s quinhenteuristas

Ouvi dizer que o acordo com a troika ia ser óptimo para a geração à rasca. Tinha escrito já quais eram as medidas, das que já se sabem, que vão mais directamente ao bolso e à vida dxs quinhenteuristas: o preço dos transportes públicos (comboios) aumenta, idem preço do gás e electricidade; a saúde fica mais cara; o subsídio de desemprego desce e cobre menos tempo; o IRS terá com menos descontos; os despedimentos ficam mais fáceis; o despedimento de cerca de 12 mil professores e a redução de salários, com o pagamento de horas extraordinárias (para aqueles, poucos, aos quais elas são pagas), a não ultrapassar os 50% (enquanto actualmente pode ser pago até 100%). Mas, pensei, devo ter falhado alguma coisa. O artigo que citei parece-me esclarecido. Até concordo que as medidas propostas pelo FMI/BCE/Governo PS podem ""(...) dar protecção social no desemprego aos trabalhadores a recibo verde. O FMI corta a duração máxima do subsídio de desemprego, mas reduz de 15 para 12 meses o período de descontos necessários para ter direito a esta prestação - uma medida para incluir mais pessoas em início de vida activa". No entanto... Para começar, como me foi chamado à atenção, a protecção social no desemprego aos recibos verdes é apenas para os "falsos" recibos verdes. Mas sobretudo há um ponto, logo nas frases seguintes, que me fez arrepiar os pelinhos da nuca. "A troika reduz ainda a protecção alta de quem tem contrato permanente: as razões para o despedimento individual vão ser flexibilizadas e as indemnizações reduzidas. A ideia é diminuir o receio de contratar sem termo - e suavizar o apartheid laboral entre precários e ultraprotegidos. "A partir daqui, tudo são interrogações. O que quer dizer despedir mais facilmente? Significa melhores condições de trabalho para os precários ou a precarização geral? Além disso, como ultrapassar a questão fundamental - "O ajustamento português implicará, por isso, mais uma década de estagnação" (como é afirmado, mais à frente, no mesmo artigo)? E sobretudo, com a economia estagnada, os impostos a subir (menos descontos no IRS, IVA mais alto), como podemos esperar melhor qualidade de vida? Já me responderam: "sentados..." Ou então, recusando-nos a aceitar engolir como se fosse mel o remédio amargo que a troika nos quer enfiar pela garganta abaixo.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Os limites da democracia libertária: Quanto vale a abstenção? E o voto em branco?

Voto - Sufrágio ou manifestação da opinião individual
a respeito de alguma pessoa ou de alguma coisa que queremos
ou que não queremos que seja eleita ou posta em vigor.
(in dicionário priberam da lingua portuguesa)

Desengane-se quem acha que a abstenção e o voto em branco representam uma tomada de posição política: isso só aconteceria de forma clara através da adopção de um programa político ou da expressão pública clara de qual o sentido desse não voto. Na prática, as únicas formas de saber se seria esse o sentido do não voto, implicaria ou a sua transformação em voto - isso implicaria assumir uma existência legal para efeitos eleitorais -, ou a afirmação de um grande movimento social e político que tomasse as ruas e anulasse o significado e os efeitos do processo eleitoral. A primeira opção é uma contradição nos termos; a segunda, a acontecer, poderia até constituir um ponto de partida, mas deixaria todas as possibilidades de saída em aberto, e uma saída democrática implicaria organizar processos de decisão política que poderiam incluir mecanismos de votação.

A desvalorização do poder do voto está presente, por exemplo, na ideia de uma democracia libertária, a qual até pode assumir a defesa de um programa político mas parte do pressuposto que este não deve ir a votos, que deve ser conquistado pelas práticas sociais, nas ruas, pela acção directa. O pensamento libertário não é, de facto, apolítico e é a sua valorização do acto, da acção, da participação, da defesa da transformação pelas práticas e pelas relações sociais que o tornam tão interessante – de facto, em tempos como os de hoje, precisamos tanto de uma cultura de democracia participativa como de pão para a boca. Mas é na desvalorização, quase negação, do poder do voto que está a sua contradição e a sua fraqueza. Contradição: se todo o acto é um acto político, porque é que não há de o ser também o voto? Fraqueza: não é a rejeição do valor do voto a base de um pensamento fascizante?

Neste sentido, a questão que se coloca é: se não nos revemos no mundo em que vivemos porque é que não exploramos alternativas, apresentamos novas propostas, e batemo-nos por elas, nas ruas e nas urnas? Porque esta democracia é capitalista e temos de estar fora dela, dizem-nos uns. Porque os partidos estão submersos nos jogos de poder e de dinheiro, acrescentam. Porque o sistema não permite escolhas verdadeiramente democráticas, dizem outros. Porque construir alternativas requer construir novas formas de organização, isenta dos vícios dos jogos de poder, isenta dos vícios do capitalismo. Tudo isto tem tanto de verdade como de mentira; tanto de potencial de transformação social como de potencial para a manutenção do estado actual de coisas:
  1. Mais coisa, menos coisa, esta é a democracia conquistada pela Revolta de Abril. Teve recuos? Claro que sim. É bem mais capitalista do que aquela que foi sonhada pela constituição de 75? Claro que sim. Mas não estou a ver em que é que não votar torna-a menos capitalista.
  2. Não há política sem relações de poder - estas assumem, às vezes, a faceta de jogo e, sim, o dinheiro conta nesse totobola -, e não há política sem disputa de interesses. Os jogos de poder e a disputa de interesses não existem apenas nos partidos. A política, se se pretende que seja consequente, que produza mudanças e contribua para a transformação social, implica a disputa de poder, seja ele o poder das ruas ou o poder institucional. Se é verdade que a construção de alternativas implica o ensaio de novas formas de organização social, não nos podemos dar ao luxo de abdicar de uma das conquistas da nossa democracia: o direito ao voto e a liberdade de organização política. Pintar essas conquistas como algo obsceno, como algo do qual nos devemos distanciar, foi uma das maiores vitórias simbólicas do populismo e da cultura capitalista.
  3. Os partidos devem ser sujeitos à crítica e ao escrutínio democrático. Claro que sim. E isso só é possível pela reapropriação, pela gente comum, da política, incluindo a partidária. Se é verdade que os partidos não se devem substituir aos movimentos sociais, a forma de organização em partido político tem as duas vantagens: implica um compromisso com ideias e programas que, em tese, torna a política um acto consequente. Exigir a transparência dos compromissos e a coerência dos actos é, em meu entender, uma tarefas fundamentais desse escrutínio democrático. Ora, as eleições são um momento chave desse escrutínio.
  4. É fundamental ensaiar práticas contra-culturais, construir alternativas à cultura capitalista dominante. Sem dúvida que sim. Precisamos de ensaiar alternativas para nos dar alento, para experimentar a sua viabilidade, constituirmo-nos como sujeito(s) político(s) colectivo(s). Não nos iludemos, no entanto, quanto à pureza dessas novas formas de organização, porque o erro faz parte da vida, da individual e da colectiva. Vou mais longe ainda: o erro é um verdadeiro laboratório de aprendizagem individual e colectiva. Para bem ou para mal, uma aprendizagem colectiva que parta do aqui e agora, requer a disputa de poder dentro e fora do contexto cultural dominante.
Daqui a menos de um mês teremos eleições e estou convencida a que assistiremos a uma das campanhas eleitorais mais surreais da história da democracia portuguesa. Suspeito que ao fim destas quatro semanas, a vontade de não votar e de mandar as urnas às urtigas será imensa. É tempo de reflectir: Quanto vale a abstenção? E o voto em branco? Em qualquer dos casos, e segundo as regras do jogo democrático, o que conta são os votos expressos em urna. Tudo o resto vale nada, nicles, zero. Até pode ser visto como resultado de um sentimento de revolta perante o estado actual de coisas, mas também da indiferença, da inacção, do tanto faz. Mais do que nunca, e face o poderoso atropelamento democrático que está a ser feito, há que ser claro: abstermo-nos num jogo em que o programa da Troika conta já com o apoio dos dois maiores partidos do cenário eleitoral português e do populismo-mor, não votar corresponde a compactuar, pela inacção, com a política da austeridade, da precariedade e do atrofiamento democrático.

este post foi também foi publicado em Portugal Uncut

quarta-feira, 4 de maio de 2011

As flores também nascem em Maio

O nariz da televisão anda a crescer demais...


La televisión, ¿muestra lo que ocurre?
En nuestros países, la televisión muestra lo que ella
quiere que ocurra; y nada ocurre si la televisión no lo
muestra.
La televisión, esa última luz que te salva de la soledad
y de la noche, es la realidad. Porque la vida es un espect
áculo: a los que se portan bien, el sistema les promete
un cómodo asiento.

Eduardo Galeano, Livro de los abrazos

Carta Aberta - O MOVIMENTO SINDICAL E O TRABALHO SEXUAL EM TEMPO DE CRISE



Cartaz pintado para o 1º de Maio por trabalhadoras do Intendente, Lisboa 2010
À Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género;
À Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN;
À Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego – CITE
À Secretária de Estado para a Igualdade e à Alta Comissária da Saúde;
À Comunicação Social
O MOVIMENTO SINDICAL E O TRABALHO SEXUAL EM TEMPO DE CRISE
Reconhecer a diversidade no mundo do trabalho é o contrário de “desunir os trabalhadores”
O movimento Panteras Rosa - Frente de Combate à LesGayBiTransfobia - saúda a campanha do alto comissariado para a Saúde, que apela à utilização do preservativo no trabalho sexual.
Congratulamo-nos com esta primeira campanha dirigida a um público específico - neste caso as mulheres profissionais do sexo - que, à semelhança de várias que têm sido dirigidas à população LGBT ou especificamente ao conceito mais lato de HSH (homens que têm sexo com homens) – é bastante positiva. Referimo-nos não apenas no que se refere à prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (IST's), mas, também ao combate ao estigma social e ao preconceito a que qualquer minoria sexual está sujeita num mundo de globalização capitalista.
Nas mesmas sociedades que mercantilizaram o sexo e sexualizaram a publicitação comercial dos bens de consumo, massificou-se simultaneamente o tráfico de seres humanos e a exploração sexual massiva por via de uma dupla moral – radicada no patriarcado – com duplo peso e medida quanto ao respeito pelos direitos sexuais e reprodutivos. Esta campanha está de parabéns, por demonstrar respeito pela pessoa humana, na medida em que a incentiva a um comportamento responsável e autónomo no que diz respeito ao seu corpo e à sua vida.
A campanha do alto comissariado serve sobretudo para educar os clientes do trabalho sexual, que continuamente fazem solicitações de práticas menos seguras, com estímulos e chantagem económica a pessoas que trabalham na clandestinidade e a sentir os efeitos de uma crise onde a concorrência é cada vez mais numerosa e, a oferta cada vez mais diversificada (ex, internet), fazendo cair os preços praticados. Regra geral, não são @s profissionais do sexo (TS) que deixam de respeitar as práticas mais seguras, esse apelo é feito pelos clientes através de aliciamento monetário e acaba por tornar-se mais uma variável do mercado, percebendo-se no terreno estímulos e até exigências dos clientes para a não utilização de preservativo.
A campanha representa correctamente a realidade de um trabalho sexual mais consciente do que a sua procura: o cliente faz a chamada e recebe a profissional do sexo, mas só depois pensa no preservativo, enquanto a profissional do sexo tinha as ferramentas de trabalho disponíveis.
Porém, em vésperas de 1º de Maio, entendeu a Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN, criticar a "utilização de dinheiros públicos, numa campanha, que claramente assume existirem “trabalhadoras do sexo”, afirmando-se explicitamente que a prostituição é uma profissão de mulheres, porque a imagem animada que se visualiza como protagonista, é a de uma mulher".
Confundindo oferta de serviços sexuais com "venda do corpo", o comunicado da CGTP revela desconhecimento sobre a realidade e diversidade do trabalho sexual, recusando até direitos laborais, e sindicais e sociais a milhares de trabalhadoras/es.
Ignora também que a prostituição não é só feita por mulheres, nem apenas por vítimas, nem necessariamente sob coação. A sua marginalização, essa sim, contribui para a vitimização, tráfegos e abusos vários. É necessário regulamentar esta profissão que pode e deve ser exercida voluntariamente, com condições dignas de trabalho e de protecção.
As Panteras Rosa, tal como a CGTP-IN e movimentos diversos, assumem publicamente formas de luta activas contra o Tráfico de Seres Humanos (TSH) e a exploração sexual, colaborando com outras instituições nesse sentido. Colaboramos e debatemos com a CGTP-IN tantas vezes quantas temos sido solidári@s com o movimento sindical nas horas de luta. No entanto, entendemos que a posição assumida pela Inter Sindical CGTP-IN é uma posição moralista e conservadora, que confunde e engloba no mesmo conceito TSH, exploração de pessoas para fins sexuais - massivamente sobretudo mulheres e crianças - para fins sexuais, ou trabalho sexual forçado, e o que é trabalho voluntário pontual, acidental, permanente, intermitente ou ocasional de mulheres, homens ou pessoas transexuais e transgénero que prestam serviços sexuais - cada pessoa tem o direito de decidir de forma autónoma e informada sobre o seu corpo e a sua sexualidade.
Desde 2006 que o movimento Panteras Rosa trabalha activamente – em crescente articulação com outras associações – com profissionais do sexo, nomeadamente na zona do Conde Redondo em Lisboa e na Zona da Avenida Gonçalo Cristóvão (Porto), actuando quer na prevenção de IST's, quer no acompanhamento à exclusão social e violência, nomeadamente, mas não exclusivamente, com pessoas transexuais e transgénero profissionais do sexo. As queixas de violência, incidem, na sua grande maioria, sobre o estigma social a que estão sujeitas, bem como sobre a actuação da polícia, que, aproveitando-se das múltiplas precariedades (mulheres, trans, emigrantes, trabalhadoras do sexo), não se coíbe de utilizar a violência, nomeadamente física, e a chantagem no contacto com estes/as trabalhadores/as, como se o exercício da actividade fosse ilegal.
Entre outros erros, a posição emitida pela CGTP-IN, boicotando a campanha do alto comissariado para a Saúde, falha porque:
- ignora os dados epidemiológicos que ilustram a frequência de transmissão do VIH a mulheres dentro de relações heterossexuais “monogâmicas” pelos parceiros ou maridos e prejudica o trabalho de prevenção de IST's (que consideramos importante em qualquer contexto), revelando ignorância das transformações e evolução do trabalho sexual, da indústria do sexo, da complexidade e diversidade da oferta e procura de serviços sexuais nos dias de hoje.
- reforça fracturas entre trabalhadores/as em vez de unir, ao considerar que quem exerce trabalho sexual, de forma voluntária, consentida, responsável, e adulta, com uma procura constante de condições de segurança para tod@s @s envolvidos nessa relação, não é digno de usufruir dos mesmos direitos, protecção social, e responsabilidades que qualquer outr@ trabalhador/a. A moral dominante opera a ocultação... do sexo. Mas será o sexo coisa inútil? E quando é transformado pelo sistema em força de trabalho de tant@s? A denúncia da exploração sexual não deve ser incompatível com o combate ao estigma e não deve esperar que todas as pessoas que recorrem à prestação de serviços sexuais deixem a actividade para serem incluídas em direitos tidos como universais como o direito à reforma na velhice. Pelo contrário, confundir exploração sexual com actividade voluntária é dificultar o combate ao tráfico de pessoas e a identificação de crimes de exploração sexual.
- fomenta a estigmatização social d@s profissionais do sexo em vez de a combater. Não combate as várias violências a que os sectores mais precarizados d@s profissionais do sexo estão sujeit@s, e fecha os olhos à diminuição de direitos sociais, parentais, cidadãos, laborais ou sindicais associados ao estigma moral. Facilita a informalidade dos vínculos contratuais na chamada indústria do sexo de a centenas ou milhares de profissionais pessoas de em áreas profissionais reconhecidas (técnicos, fotógrafos, redactores, editores, realizadores...) empregues pela indústria do sexo, e, por essa via, também eles alvo de um estigma moral hipócrita e de uma dupla moral.
- atinge @s profissionais do sexo mais precário@s, empurrando-@s para um ciclo cada vez mais clandestino do trabalho sexual, onde as leis laborais não @s podem proteger e a prevenção das IST's não chega -, ficando deste modo mais expost@s a situações de vulnerabilidade e simultaneamente de violência e exploração. No entanto, desapossar de instrumentos de defesa @s profissionais do sexo caricaturizando-@s enquanto vítimas e não enquanto… pessoas, é também desapossá-las da sua capacidade de negociação face ao estigma.
Ao invés de vitimizar @s profissionais do sexo, é evidente que quem deve ser ouvido sobre as suas condições de trabalho, a diminuição dos seus direitos sociais, ou sobre os seus motivos para recorrerem à prestação directa ou indirecta de serviços sexuais são @s próprios profissionais do sexo, na sua diversidade de vivências e opiniões.
Não duvidamos de que @s profissionais do sexo são vítimas da desigualdade, apenas na medida em que todas as outras pessoas o são, especialmente em tempos de crise e reforço da exploração, mas a realidade no terreno é tão diversa que não permite generalizações. A exploração do trabalho sexual não é mais grave do que a exploração de qualquer outra força de trabalho. É fundamental que pessoas dependentes da oferta de serviços sexuais e que queiram deixar a actividade encontrem apoios e meios para isso. É evidente que há que combater também as causas da exploração sexual, com a pobreza, a exploração económica à cabeça. Mas não por pudor ou imperativo moral. Para quem continua a recorrer ao trabalho sexual, é evitável que a actividade seja exercida em situações especialmente aniquiladoras da capacidade de negociação do risco, face ao poder económico do cliente, nomeadamente nas questões de âmbito sindical.
As Panteras Rosa apelam às entidades supra-citadas que tenham em conta nas suas campanhas ou comunicados uma distinção clara e bem definida entre os conceitos de TSH - Tráfico de Seres Humanos - e exploração sexual (punidos criminalmente) e de trabalho sexual, que é legal, voluntário e consentido, cabendo a cada um e cada uma decidir sobre o seu corpo, a sua sexualidade, a sua vida. A prostituição não é só feita por mulheres, nem por vítimas. A sua marginalização só contribui para a vitimização, tráfegos e abusos vários. É necessário regulamentar esta profissão que pode e deve ser exercida voluntariamente em condições dignas de trabalho e de protecção, o que contribui igualmente para o combate ao lenocínio e ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual.
A prestação de serviços sexuais voluntários, prostituição incluída, não é ilegal nem proibida em Portugal, apenas o lenocínio. Não se coloca, portanto, a questão da “legalização”. Importa reforçar a consciência, auto-organização e defesa d@s profissionais do sexo, não contribuir para o seu enfraquecimento. O foco deve ser o de regulamentar o acesso a direitos tidos como universais, sobretudo evitar a diminuição e desigualdade de direitos em função do estigma sobre a actividade exercida, independentemente do distinto debate sobre qualquer tipo de reconhecimento "profissional" da actividade, muito menos sobre qualquer modelo pré-estabelecido de regulamentação.
Os movimentos e associações feministas, gays e lésbicos, para a promoção da Saúde, de profissionais do sexo, têm uma longa e ininterrupta tradição de apoio às reivindicações gerais d@s trabalhadoras/es, ou não fossem certos grupos sociais mais vulnerabilizados face à crise devido a desigualdades sociais e diminuições de direitos. Continuaremos com a mesma naturalidade a solidarizar-nos e juntar-nos a tod@s @s trabalhadoras/es em luta num momento nacional e internacional de profunda crise e exigência de mobilização social abrangente, inclusiva, solidária, sem que sejam alienadas e negadas parte d@s que acreditamos que um mundo melhor é possível, e um mundo laboral melhor para @s profissionais do sexo, também.
Vivemos momentos em que é preciso unir e não de, não des-solidarizar sectores do mundo do trabalho informal ou colocar trabalhadores/as contra trabalhadores/as. Continuaremos como sempre a gritar "presentes" nos protestos da CGTP-IN contra o FMI e pelos direitos laborais, sempre de forma inclusiva e aberta a novas realidades e complexidades do desemprego, do precariado e da vida, sabendo que o debate honesto e a colaboração activa que há anos prosseguimos com a CGTP sobre estas temáticas, e a que sindicalistas gays e lésbicas têm igualmente dado visibilidade nos seus respectivos sindicatos, continuará no mesmo espírito saudável e solidário de quem tem um caminho comum percorrido e a percorrer.
Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransFobia
1º Maio 2010, Lisboa - os guarda-chuvas vermelhos simbolizam a luta contra a violência contra @s profissionais do sexo