quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

À rasca, movimento social em emergência?

A geração que se agiganta e movimenta. Desemprecári@s, a rua é nossa.


Sobre a geração à rasca que se prepara para ir para as ruas a 12 de Março, tenho-me perguntado se se aproxima um novo movimento social. Será?
Mario Diani afirma que aquilo que possibilita a emergência de um movimento social são três coisas:
- A existência de uma identidade colectiva comum;
- Um foco conflitual claro;
- A existência de redes informais densas.
Sobre o primeiro ponto, uma das novidades que este protesto traz é procurar albergar sob uma identidade comum o que até agora eram colectivos “separados” e que podemos designar como desemprecári@s. Aí estão desemprego, recibos verdes, bolsas, intermitências, estudantes, jovens trabalhador@s, etc. Se somarmos toda esta gente teremos um número bem superior a 1 milhão de pessoas, mais de 20% da população activa. É muita gente. E de facto muitas destas pessoas oscilam entre uma e outra situação e podem facilmente identificar-se nesta nova designação.

Por outro lado, a questão que provoca o conflito é clara: falta de emprego e a degradação das condições em que o emprego se exerce - que tem consequência sobre o todo deste grupo, de desempregad@s a precári@s. Mais ainda, o conflito tem vindo a intensificar-se, seja pelo aumento continuado do desemprego ou pela generalização da precariedade, seja porque é sentido pela geração que está ainda a estudar como sua perspectiva provável de vida. O que ainda não é claro é qual o foco de conflito: é contra quem nos governa ou contra o capital financeiro e o sistema capitalista? (o manifesto refere “políticos, empregadores e nós mesmos”...). O tempo o dirá.

Sobre o terceiro ponto, a existência de redes informais densas, Alberto Melluci defende a existência de redes submersas que, aparentemente de forma súbita, emergem com o nascimento de um movimento social. Aqui o súbito é aparente, claro. No caso em causa basta pensar em movimentos, grupos ou colectivos já existentes, como o FERVE, Precári@s Inflexíveis, Intermitentes do espectáculo, ABIC, Estudantes por empréstimo, Desempregad@s pelo trabalho justo, ou em algum crescendo na movimentação estudantil para perceber como esta identidade - embora “separada” - já se vem a desenhar há algum tempo e tem facilitado o desenvolvimento de redes informais que agora podem emergir como conjunto. Some-se a isto a facilidade de partilha de informação e de aproximação destas e de outras redes informais (como as redes de afecto) que a internet possibilita - aliada ao facto das gerações que aqui se identificam serem aquela com maior nível de acesso à internet - e temos um rastilho e talvez a pólvora. É possível até  estarmos perante a tradução de um sentimento colectivo de injustiça na emergência de um movimento social em "estado de emergência". O perdurar é a questão seguinte, ainda dificil de prever. O sinal, seja como for, já foi dado.
Sobre a imprensa ter começado a ridicularizar a geração, ou sobre a tentativa de confundir movimentos (com aquele outro protesto também previsto para 12 de Março, cujo sinal de crescente insatisfação com a classe político-partidária como um todo “único” merece reflexão, mas fica para outra vez), ou sobre a idiotia de afirmações como as de Vicente Jorge Silva, ou de outras tantas pessoas que do alto dos seus estatutos profissionais confortáveis debitam na televisão comentários do tipo "isto tem de ser assim, é assim e sempre assim será", apenas um comentário (parafraseando Ghandi): Primeiro ignoram-nos, depois ridicularizam-nos, depois lutam contra nós, depois nós ganhamos.

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