A língua é uma parte enorme do nosso universo simbólico, da forma como comunicamos e representamos o mundo. O português, como todas as línguas (desconheço qualquer excepção, mas talvez exista...), invisibiliza metade da humanidade, as mulheres.
Isto para reafirmar que é inegável a importância - essencial - da língua, bem como que ela visibilize e inclua todas as pessoas. É um direito humano, ser visível. É além disso o português uma língua viva - por oposição a uma língua morta, como o latim - que vai se transformando todos os dias e tem toda a potencialidade para o fazer (falsos neutros incluídos).
Por tudo isto fico perplexa com a dificuldade e a luta que significa conseguir incorporar o masculino e o feminino naquilo que escrevemos e dizemos (isto para não falar ainda das várias identidades de género possíveis). Estou sempre a ouvir: "isso não é importante" [este argumento é pura desonestidade intelectual, é como dizer que não é importante falar, escrever, comunicar ou ser visível], ou "não tenho tempo", "isso é difícil", "não é prático". É sobre estes últimos argumentos que reside a minha maior perplexidade. Ouvindo-os da esquerda à direita, quando os ouço na esquerda fico, literalmente, de boca aberta. Então pessoas que querem um outro mundo possível encalham numa simples @, num o/a/x? Queremos uma revolução fácil, prática, que não nos tome tempo? Queremos uma revolução que transforme a face do mundo de forma mais inclusiva, igualitária e emancipadora, e custa-nos tentar mudar, ligeiramente, uma frase? Carai!!!....
O que resta para explicar isto não é um argumento, mas uma razão profunda (raramente admitida): a de pensar que metade da humanidade ter uma história de invisibilidade e assim se manter é uma coisa de somenos importância. Bom ... e isso... isso é grave. É, basicamente, machismo interiorizado e ainda por resolver.Que venha outro futuro possível.
"la libertad es imaginar um mundo perfecto" está escrito numa parede da minha casa em Montevideo. (creio que serão do Eduardo Galeano, mas não juro) Levo estas palavras comigo. E ofereço-tas.
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